Título: Hugo Chávez amplia acordos com a China
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/08/2006, Economia, p. B3

A Venezuela quer se apresentar como parte da solução para a sede cada vez maior da China por petróleo. A Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) destaca que Caracas já passou a ocupar a décima colocação entre os maiores fornecedores de petróleo para Pequim, tendência que deve se consolidar até o fim do ano.

Não por acaso, nesta semana, o presidente Hugo Chávez faz uma visita oficial à China para assinar acordos para a construção de uma frota de navios para transportar combustível, acertar uma compra de equipamentos e atrair investimentos chineses no setor petrolífero na Venezuela.

Segundo a Opep, os chineses são hoje os maiores responsáveis pelo aumento da demanda pelo combustível no mundo. Pequim já consome por dia 7 milhões de barris de petróleo, volume superior ao de toda a América Latina. Desse total, 2,8 milhões de barris chegam do exterior diariamente. Já os venezuelanos são responsáveis por fornecer 150 mil barris por dia aos chineses, média que chegará a 200 mil antes do fim do ano e que deve sofrer incremento importante em 2007, de acordo com a Opep.

Especialistas da entidade apontam que a busca de petróleo venezuelano pelos chineses segue a lógica da diversificação de fornecedores, estratégia que Pequim está implementando desde o início da década. O principal objetivo é reduzir a dependência do país em relação ao petróleo do Oriente Médio.

Dados da Opep mostram que, até 2005, os países árabes forneciam 48% do petróleo consumido pelos chineses. Neste ano, a taxa já caiu para 44% e o objetivo é de que a proporção seja reduzida de forma ainda mais acelerada nos próximos anos.

Para continuar nessa linha, Pequim não poupa nem esforços diplomáticos nem financiamentos para ajudar outros países na exploração e transporte do combustível.

ALTERNATIVAS

O caso mais evidente desse esforço nos últimos anos é o de Angola, que recebeu US$ 2 bilhões em investimentos chineses desde 2004. O dinheiro tem sido usado até na construção de prédios do governo e estradas.

Apesar das polêmicas da falta de transparência no uso dos recursos e de que os contratos prejudicam as empresas locais, o financiamento chinês deu resultado na produção de petróleo. Segundo os dados da Opep, os angolanos aumentaram em 60% suas exportações aos chineses entre 2005 e 2006 e se tornaram os maiores fornecedores de petróleo de Pequim, com 18% do mercado chinês, seguidos pelos russos e sauditas, cada um com 16%.

Mas os chineses sabem que não podem apenas depender dos recursos energéticos da África se querem reduzir a proporção de petróleo do Oriente Médio. Uma nova aposta, portanto, seria a Venezuela. Os primeiros acordos entre os dois países foram assinados em 2004 e possibilitaram alguns investimentos chineses nos campos venezuelanos.

Agora, Chávez e o presidente chinês Hu Jintao anunciarão na visita que começa amanhã uma cooperação para a construção de uma frota de petroleiros para que a Venezuela possa transportar o combustível até os portos asiáticos.

A China ainda venderá aos venezuelanos equipamentos para exploração do produto e promete investir nos campos de petróleo do país sul-americano.

Segundo os especialistas da Opep, os entendimentos também atendem à necessidade da Venezuela de diversificar seus mercados energéticos. Hoje, grande parte do que o país exporta vai para os Estados Unidos.

Diante das tensões diplomáticas com Washington, Caracas estaria tentando redirecionar suas vendas e quer exportar 20% de sua produção nos próximos anos para a China.