Título: Ritmo forte da construção civil
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2006, Notas e Informações, p. A3

A oferta e a demanda de imóveis estão se ampliando a ponto de especialistas já falarem em ¿boom¿ da construção civil e no ¿melhor momento do setor desde o Plano Real¿, conforme reportagem publicada segunda-feira no Estado. O mais importante é que a oferta tende a atender às faixas da população de baixa renda.

Os recursos para a atividade provêm de várias fontes. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Paulo Safady Simão, calcula que R$ 40 bilhões serão injetados na construção civil em 2006. Cerca de R$ 9 bilhões virão do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), ou seja, das cadernetas de poupança; R$ 5 bilhões corresponderão a financiamento próprio das construtoras; e R$ 26 bilhões serão recursos das pessoas que constroem por conta própria.

A esse montante se acrescentarão os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), administrados pela Caixa Econômica Federal (CEF). Maior agente do crédito imobiliário, a CEF deverá liberar mais de R$ 9 bilhões do FGTS, em 2006, o dobro dos R$ 4,5 bilhões aplicados em 2004. A construção civil responde à oferta de crédito. Excluída a autoconstrução, sobre a qual os dados não são precisos, o número de unidades financiadas atingiu 393.700, em 2005, saltando para 421.083 nos primeiros nove meses deste ano. Mantido o ritmo no último trimestre, o número de financiamentos de 2006 ficará próximo do recorde histórico de 1980, quando 627 mil unidades foram financiadas pelo SBPE e pela CEF.

Além disso, a atividade da construção civil começa a se desconcentrar. A CEF aumentou de 1.936 para 4.592, em dez anos, o número de municípios onde realiza operações de crédito imobiliário. O ritmo de crescimento do volume de empréstimos imobiliários no interior é três vezes superior ao registrado nas capitais, segundo a Caixa. E o Secovi, de São Paulo, registrou aumento de 21,8% nas vendas, entre 2005 e 2006, um ritmo só inferior ao de 1994, no auge do Plano Real.

Pequenos municípios, como Constantina, no Rio Grande do Sul, com menos de 12 mil habitantes, já enfrentam falta de mão-de-obra para a construção civil, segundo reportagem do jornal Valor. No Sul, esta situação se repete em outras cidades da região de Passo Fundo e em Cascavel, no Paraná. E não são casos isolados.

O governo tem ajudado a atividade. No plano microeconômico, reduziu a carga tributária sobre materiais de construção e o IR na compra e venda de imóveis. Ao mesmo tempo, fortaleceu a segurança jurídica dos contratos.

No plano macroeconômico, há estímulo aos investimentos imobiliários, que não podem depender apenas da oferta de crédito e de moradias. Desestimulado até a década passada pela elevada inflação, desemprego e juros estratosféricos, o consumidor volta a encontrar, agora, ofertas compatíveis com a sua renda. Cresce, por exemplo, a oferta de imóveis com valor entre R$ 40 mil e R$ 100 mil, segundo a Cbic. Famílias com renda de até cinco salários mínimos (R$ 1.750,00 mensais) têm mais acesso à moradia: 76% das operações do FGTS concentram-se nessa faixa, onde estão 93% do déficit de casas. No setor privado, surgem novas modalidades de crédito, como as operações com juros fixos.

A atividade imobiliária tem efeito multiplicador. Aquece a produção e o comércio de materiais de construção, mobiliário e eletrodomésticos; a intermediação e a locação; os escritórios de engenharia e decoração. Responde, hoje, por cerca de 60% da taxa de investimento. Estão empregados na indústria da construção civil cerca de 1,54 milhão de pessoas com carteira assinada. Neste ano, até agosto, foram criadas 131,4 mil vagas, 22% a mais do que em 2005.

Mas os indicadores brasileiros ainda são modestos. A relação entre o volume de crédito imobiliário e o PIB é hoje da ordem de 46%, na Espanha; de 65%, nos Estados Unidos; de 73%, na Grã-Bretanha; e de 111%, na Holanda; caindo em países emergentes para 13%, no Chile, e 9%, no México. No Brasil, limita-se a menos de 2% do PIB, e só poderá aumentar com maior queda dos juros e o aumento do emprego e da renda.