Título: Brasil reforçará laços com vizinhos
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/11/2006, Nacional, p. A9

O desafio da política externa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu segundo mandato será demonstrar na prática a sua 'prioridade ainda mais elevada para a América do Sul'. Trata-se da premissa expressa pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, dado como um dos raros sobreviventes na equipe de governo a partir de 2007.

Com um superávit de US$ 5,9 bilhões no comércio com seus vizinhos entre janeiro e setembro deste ano, o Brasil reconhece ter contabilizado poucos pontos positivos na sua agenda sul-americana no primeiro mandato de Lula e continua pressionado a assumir seu papel de liderança, sobretudo pelos sócios menores do Mercosul, o Paraguai e o Uruguai. Na semana passada, Amorim começou a cerzir essas relações fragilizadas em uma estratégica jornada pelo Cone Sul.

A iniciativa começou há menos de um mês da reeleição de Lula, a poucas semanas de dois encontros de cúpula relevantes para essa política externa - da América do Sul e África, no dia 30, e da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa), nos dias 8 e 9 de dezembro. Amorim fechou acordos de cooperação com o governo do Uruguai e foi cobrado pela omissão do Brasil na 'guerra das papeleiras', entre este vizinho e a Argentina.

FOZ DO IGUAÇU

Ele foi também ao Paraguai, onde assinou outros acordos de cooperação e tratou de um regime tributário especial para a região de Foz do Iguaçu e de Ciudad de Leste. Em dezembro, o ministro deverá ouvir as queixas da Argentina. 'Não vim prometer nada. Estamos trabalhando com os bancos, as entidades normativas e com os empresários', afirmou Amorim. 'O Brasil vai fazer mais, sempre que for possível. Mas teríamos de contar com um dia de 28 horas para atender a todas as demandas.'

Em visita ao Chile, Amorim manteve-se concentrado no esforço de conferir institucionalidade ao projeto mais ambicioso de Lula para a região - a Casa, voltada à integração física, energética e comercial, mas também para a maior cooperação na área de defesa. Para Amorim, a América do Sul deve 'adquirir personalidade própria' e fincar-se como um novo bloco.

A máquina do governo brasileiro vai se voltar mais intensamente a esse projeto da política exterior. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) hoje financia dez projetos de infra-estrutura na América do Sul, realizados por empresas brasileiras, e dois na República Dominicana - US$ 1,2 bilhão de investimentos.

O Itamaraty voltou suas cargas para o Programa de Substituição Competitiva de Importações, criado em 2003 para estimular produtores sul-americanos a competir com fornecedores de outras regiões do mundo no mercado brasileiro. O objetivo é reduzir o superávit brasileiro no comércio com a América do Sul, mediante a elevação das exportações para o Brasil.