Título: Onde estão os partidos de Geraldo Alckmin?
Autor: Francisco C. Weffort
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2006, Espaço Aberto, p. A2

O eficiente desempenho de Geraldo Alckmin em 1º de outubro se deve mais ao candidato do que à aliança PSDB-PFL-PPS. A maior virtude da sua campanha até aqui foi a tenacidade com que firmou seu nome contra todas as dúvidas, inclusive as de seu próprio partido. Alckmin foi no primeiro turno um pelejador quase solitário e sua determinação foi premiada com cerca de 40 milhões de votos. Parecendo ontem condenado à derrota, ele aparece hoje como um provável vencedor. Mas surge uma pergunta: serão agora capazes os partidos e líderes da aliança de se engajar e de chegar junto com seu candidato presidencial à vitória?

Esta não é apenas uma questão eleitoral. É participando, e vencendo, numa campanha presidencial que partidos políticos podem dar provas de sua capacidade para dirigir o País. Com a vantagem da definição prévia de uma candidatura nacional, o PSDB, o PFL e o PPS têm agora uma chance real de liderança nacional, embora não sejam os primeiros da fila entre os maiores partidos do País. O PMDB, o primeiro deles, com 89 deputados federais e 162 estaduais, renunciou a esta possibilidade quando se negou a ter candidato próprio, ou mesmo a se aliar a algum dos candidatos já apresentados. Mas a possibilidade que se abre agora aos partidos pró-Alckmin só se tornará realidade se forem capazes de se mobilizar e de mobilizar a população. É só ver alguns números e fatos do primeiro turno para perceber que há amplo espaço para tal.

O PSDB elegeu 65 deputados federais e 145 estaduais e o PFL, 65 federais e 119 estaduais. Não é pouca coisa, quando sabemos que o PT elegeu 83 deputados federais e 126 estaduais e o PMDB, embora com maior número, começa dividido, como sempre. Há que considerar ainda que mesmo o menor dos partidos pró-Alckmin, o PPS, elegeu 21 federais e 41 estaduais, e elegeu ainda dois governadores. Foram igualmente alvissareiros os resultados para o Senado, onde a oposição consolidou sua maioria.

Números e fatos como estes dão a perceber que as possibilidades de Alckmin são grandes. Ele pode contar ainda com os governadores já eleitos em São Paulo, Minas, Mato Grosso, Rondônia, Alagoas, Roraima, Brasília e Mato Grosso do Sul. E certamente contará com o apoio de candidatos bem colocados em Estados cujos governos continuam em disputa: Rio Grande do Sul, Pernambuco, Pará, Santa Catarina e Goiás. A esta lista se acrescentem a Paraíba e o Rio Grande do Norte, cujos eleitorados estão divididos ao meio. Numa consideração de conjunto, há que assinalar que estão do lado do PSDB e aliados 62% dos eleitores nos Estados.

A ampliação das alianças é outra possibilidade do tucano. Possibilidade menor para Lula, que iniciou sua campanha com todos os que se dispunham a aderir (Newton Cardoso, Jader Barbalho, Orestes Quércia, etc.), sobrando-lhe sempre, porém, algum espaço onde agora se aloja Fernando Collor. É claro que também para Alckmin não faltam problemas, como, por exemplo, a derrota do PFL ao governo da Bahia. Uma derrota, por certo, mas cujas conseqüências têm sido exageradas por alguns comentaristas que esquecem que, mesmo perdendo o governo, o PFL elegeu 13 deputados federais e 16 estaduais. É certo que, no Ceará, Tasso Jereissati e Lúcio Alcântara também perderam o governo do Estado, mas, ainda assim, o PSDB conta com 5 deputados federais e 15 estaduais. No Rio de Janeiro, a adesão de Anthony Garotinho - impulsionado por seus sucessivos desentendimentos com Lula e Cesar Maia - pode significar um crescimento eleitoral de Alckmin. Quaisquer sejam as complicações do cenário fluminense, não se pode esquecer que Garotinho teve 15 milhões de votos no País em 2002.

São fatos e números que impressionam, mas não bastam. A mobilização dos líderes e partidos pró-Alckmin passa a ser um requisito fundamental da nova etapa da campanha. O PSDB e seus aliados têm de levar ao povo o seu candidato e as suas propostas de governo: reforma política, visando a criar condições institucionais para a retomada do desenvolvimento; diminuição dos impostos e dos gastos do setor público, proporcionando maior eficiência e capacidade de investimento; crescimento e melhoria do sistema educacional; segurança pública. Além disso, há que debater a história obscura dos ¿mensalões¿, ¿organizações criminosas¿, ¿cuecões¿ carregados de dólares, ¿dossiês¿ fajutos, etc. Difícil pensar em reformas que modernizem o Estado brasileiro deixando de lado a moralização dos costumes políticos.

É certo que, além das questões éticas, também as diferenças de estilo pessoal continuarão a ter papel importante. Lula, que já teve a insolência de se comparar a Jesus Cristo, vai apresentar seu governo como o melhor de todos os tempos, assim como vai continuar alegando nada saber dos crimes de seus amigos na sala ao lado. É enorme o contraste entre Lula e o discreto Geraldo Alckmin, este dotado de uma férrea convicção em favor de uma administração decente e competente. De um lado, o falso messianismo que promete milagres que nunca realiza; de outro, a clara consciência de que o caminho para o desenvolvimento do País é o do trabalho e da eficiência. Diante das pretensões carismáticas de Lula, Alckmin representa a figura simples e honesta dos homens comuns determinados a conquistar um futuro melhor para si e para seus filhos. Sabendo da tenacidade de Alckmin, é fácil prever que ele continuará seu caminho. A questão que permanece em aberto é esta: serão os partidos e os líderes dos partidos da aliança capazes de fazer a sua parte?

A resposta a esta pergunta virá em 29 de outubro, e de modo transparente para os cidadãos brasileiros.