Título: Lula larga com 54% dos votos válidos, ante 46% de Alckmin
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2006, Nacional, p. A4

A primeira pesquisa de segundo turno mostrou que a diferença entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) ficou estabilizada nos cinco dias posteriores à eleição: Lula tem 50% das preferências e Alckmin, 43%, segundo levantamento Datafolha divulgado ontem pela TV Globo - 54% a 46% dos votos válidos. Na última pesquisa Datafolha antes das eleições, anunciada no dia 30 de setembro, Lula tinha 49% e Alckmin, 44%. Há 4% de eleitores indecisos e 3% que declaram votar em branco ou nulo.

A estabilização quase absoluta dos números demonstra que a primeira semana após as eleições - que os candidatos aproveitaram para montar a campanha de segundo turno - não alteraram as posições mensuradas no dia 30. As mínimas oscilações de um e outro (Lula, 1 ponto para cima, Alckmin, 1 ponto para baixo) estão contidas pela margem de erro da pesquisa.

As performances dos candidatos no segundo turno, nos últimos três meses, mostra um histórico de oscilações variadas. Em 24 de junho, Lula tinha 52% contra 35% de Alckmin; em 29 de junho, Lula oscilou para 50% e Alckmin subiu 5 pontos porcentuais, pulando para 40%. Nas pesquisas seguintes, Lula começou a melhorar o seu índice, até chegar a 55%, seu ponto máximo, em 29 de agosto. Alckmin, depois da subida meteórica, caiu até 36%.

LENTA APROXIMAÇÃO

A partir daí começou uma aproximação entre os dois candidatos, graças a uma lenta redução dos índices de Lula e um também lento crescimento de Alckmin. Até a última semana de campanha do primeiro turno, as apurações que as pesquisas faziam do segundo eram sempre hipotéticas, porque, em todos levantamentos dos três últimos meses, Lula vencia no primeiro turno ou havia empate técnico.

Em 5 de setembro, o placar era de 55% a 37%; em 22 de setembro, a diferença estreitou-se para 54% a 39%; em 27 de setembro, ficou em 52% a 41%; e, finalmente, na véspera da eleição, apenas 5 pontos separavam os dois, numa contagem de 49% a 44%.

Lula fechou o primeiro turno com 48,61% dos votos válidos (cálculo em que não são computados os votos em branco e nulos) e Alckmin teve 41,64% (também dos votos válidos). A diferença de 6,97 pontos porcentuais que separou os dois contendores surpreendeu porque foi bem menor do que a menor diferença apontada até então pelas pesquisas de opinião.

Em toda a campanha para o primeiro turno um dado se destacou nas simulações do segundo: elas foram sempre hipotéticas (porque Lula sempre saía vencedor no primeiro turno), mas em todos os levantamentos feitos Lula demonstrou uma capacidade muito limitada para expandir sua votação no segundo turno - se ele viesse a ocorrer. O presidente não conseguia agregar muitos votos dos oponentes eliminados da disputa na primeira fase.

Já Alckmin mostrou o inverso: nas simulações de segundo turno ele sempre agregou bem mais pontuação do que Lula, o que indicava que conseguia absorver mais votos dos outros. Na cabeça do eleitor, se caminhava para uma eleição plebiscitária, em que se configurava a situação de todos contra Lula.

REVERSÃO DE CENÁRIO

Durante todo o primeiro turno, o petista nunca executou nenhuma estratégia para reverter esse cenário, certamente porque os outros candidatos que tinham pontuações mais ou menos expressivas - os senadores Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT), ambos expurgados do PT - desde o começo da campanha se posicionaram como ácidos críticos de Lula e do PT.

Na última pesquisa Datafolha que fez simulação de segundo turno - na véspera da eleição, um momento em que o segundo turno já era sinalizado pelas pesquisas - Lula tinha 46% nos votos totalizados no primeiro turno e agregava apenas mais 3 pontos para o segundo turno, chegando aos 49%; já Alckmin, que tinha 35% no primeiro turno, conseguia arrebanhar mais 9 pontos e fechava no segundo turno com 44%.

O resultado surpreendente revelado por essa pesquisa Datafolha na véspera da eleição ajudou a consolidar, antes mesmo da eleição, a convicção de que um segundo turno estava cristalizado. A diferença entre os dois no segundo turno, que já fora de 19 pontos porcentuais em 29 de agosto, um mês depois se resumia a meros 5 pontos, ressuscitando Alckmin para uma disputa mais igual do que as pesquisas antes revelavam.

AVALIAÇÃO DO GOVERNO

A pesquisa Datafolha apurou que a avaliação positiva do governo Lula melhorou em meio à disputa eleitoral. Segundo os números, 49% dos eleitores acham que o desempenho do governo é ótimo ou bom; 33% dos eleitores pensam que a performance do governo é regular e só 17% dizem que o desempenho é ruim ou péssimo. Na última medição, no dia 27 de setembro, 47% deram avaliação positiva (ótimo e bom), 34% consideravam a avaliação regular e 17% consideravam a avaliação negativa (ruim e péssimo).

A pesquisa Datafolha foi a campo nos dias 5 e 6 de setembro e entrevistou 5.811 eleitores, em 368 municípios brasileiros, com margem de erro de 2 pontos porcentuais.