Título: Presidente avisa que não deixará tucano 'falar grosso' sobre ética
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2006, Nacional, p. A6

O presidente Lula afirmou ontem em comício que não vai deixar o adversário Geraldo Alckmin (PSDB) 'falar grosso' sobre ética e corrupção no debate de domingo, na TV Bandeirantes. E mais uma vez tentou usar politicamente o dossiê Vedoin, que antes condenou e disse ter sido montado por 'aloprados'.

'A questão dos sanguessugas começou em 2001, quando Serra era o ministro da Saúde deste país', atacou. 'De todas as prefeituras envolvidas, 80% delas são do PFL e do PSDB.' Pouco antes de partir para o ataque e deixar claro o tom que poderá usar no debate, Lula tinha recebido a informação de que, como definiu em conversas ao longo da semana, o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), deixara a presidência do PT.

A saída de Berzoini, na avaliação de assessores, era necessária para que Lula pudesse argumentar que um petista influente fora punido. 'Se querem discutir ética, vamos discutir', disse Lula, ainda em Juazeiro. 'Nem PFL nem PSDB têm moral para dar lição de ética.'

Lula afirmou que seu ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT)foi vítima de uma 'armação' às vésperas do primeiro turno. Costa, derrotado na eleição para o governo de Pernambuco, foi indiciado pela Polícia Federal no inquérito que apura o esquema dos vampiros, que superfaturava hemoderivados. 'Não deixe sua alma ficar ferida, pois esse sofrimento que você vive é um teste de Deus', emendou.

Antes, Lula havia feito uma carreata de mais de uma hora pelas ruas da cidade baiana de Juazeiro. Em um jipe aberto, ele e o governador eleito da Bahia, Jacques Wagner (PT), comemoraram a derrota do grupo do senador Antonio Carlos Magalhães, que controla há 16 anos a máquina do Estado. 'É uma alegria nacional', disse Lula, num ato diante de bandeiras do MST e de diferentes partidos.

'Devo muito a São Paulo e tenho orgulho de dizer que corre nas minhas veias o sangue nordestino de minha mãe, de meu pai e de minha gente.' Wagner disse que os adversários de ACM fizeram 'barba, cabelo e bigode', elegendo também o senador João Durval (PDT).

Lula ainda acusou a oposição de crime eleitoral. Ele exibiu santinhos falsificados em que sua imagem aparece com o número 45, de Alckmin. 'Tem um grupo político paraguaio, falsificado', reclamou, sem dar importância à diplomacia com o país vizinho. 'Tenho cara de tudo, mas não tenho cara de tucano.'