Título: Para Lula, dossiê e salto alto levaram ao 2º turno
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2006, Nacional, p. A6

Em entrevista a três emissoras de rádios do Nordeste, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que excesso de confiança de sua campanha e o escândalo do dossiê Vedoin impediram sua vitória no primeiro turno da eleição. 'O que sei é que a questão do dossiê foi um desastre que somente daqui a alguns anos especialistas vão explicar por que um bando de pessoas cometeu aquilo. Acho que tem a ver com muito otimismo da minha tropa, tem a ver com as denúncias do dossiê, tem a ver com trabalho os adversários', explicou. Mesmo reconhecendo o excesso de otimismo no primeiro turno, o presidente disse que vai conseguir agora o 'pouquinho de votos' que faltou no primeiro e desacreditou da hipótese de derrota para o tucano Geraldo Alckmin. 'É improvável o adversário ganhar as eleições.'

A seguir, os principais trechos da entrevista:

MUDANÇA

'É improvável o adversário ganhar as eleições. A mudança substancial na política econômica é que as bases da política econômica estão consolidadas para poder afirmar que o Brasil só tende a crescer daqui para frente. Não tem volta, não haverá nenhum motivo que se possa dizer 'houve problema nos EUA, na Malásia, na China', porque a economia brasileira está muito sólida, a inflação definitivamente controlada, a política de juros definitivamente caindo.'

CRESCIMENTO

'Eu estou convencido que o Brasil vai crescer a taxas entre 5 e 6% nos próximos anos. O ideal - e é por isso que nós fizemos sacrifício no primeiro mandato - é que as bases estejam sólidas para um longo novo ciclo de crescimento no Brasil que possa perdurar 10, 15 anos, de crescimento contínuo, de crescimento sustentável, para que não tenha as experiências do passado em que muitas vezes o governo anunciava um plano extraordinário. Pode pegar todos os planos anunciados: Cruzado, em fevereiro de 1986, grande distribuição de renda, mas durou só até a eleição. Depois veio o Plano Bresser, o Plano Collor, o Plano Verão, o Plano Real, e todos eles duraram um ou dois anos.'

SEM MÁGICA

'Resolvemos não fazer mágica. Botar a economia para funcionar com respeitabilidade, seriedade e estamos colhendo crescimento econômico, crescimento da política industrial, da renda salarial, do salário mínimo, diminuição do custo de vida.'

BERZOINI

'Não vejo necessidade de tomar qualquer decisão política agora enquanto não desvendar esse processo. De qualquer forma, a direção vai se reunir e não sei qual a decisão a ser tomada, mas não vejo isso ajudar em nada neste momento. Ricardo Berzoini é um homem importante no PT, um quadro político de envergadura. Foi ministro da Previdência, teve trabalho excepcional na reforma da previdência do funcionalismo público. Ele já não está mais no comando da campanha, portanto, espero que o PT tenha maturidade política para fazer as coisas corretas. Normalmente, nessas horas, as pessoas trabalham na pressão das manchetes e tomam atitudes precipitadas.'

CRISE NO PT

'Vocês estão lembrados quando houve crise no ano passado, as pessoas diziam: 'o PT acabou'. E foi a legenda mais votada outra vez, uma demonstração de que o povo sabe separar o joio do trigo. O partido pune quem sabe que é culpado e a vida continua. É assim na família. Se numa família, um comete erro, a família não pode ser sacrificada, sacrifica quem cometeu o erro. Se uma laranja está podre, não vai cortar o pé, tem que tirar a que está podre. Assim que a democracia vai se arrumando e assim o Brasil vai dar certo.'