Título: A 2 dias do debate, PT expulsa 4 do dossiê Vedoin e Berzoini se licencia
Autor: Vanicce Cioccari, Clarissa Oliveira, Ricardo Brand
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2006, Nacional, p. A10

Pressionado pela cúpula do PT, inclusive pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Ricardo Berzoini afastou-se ontem da presidência nacional do partido, após ter sido responsabilizado indiretamente no escândalo do dossiê Vedoin - tentativa de relacionar políticos tucanos com a máfia dos sanguessugas. Outros quatro envolvidos sofreram 'expulsão política', neologismo que revela a pressa em desligá-los do partido sem que tenham sido processados diante da Comissão de Ética.

No domingo, Lula participa de debate na televisão.

No lugar de Berzoini assume interinamente o coordenador da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia. Berzoini resistiu até o último momento a entregar o posto, mas foi convencido do contrário pela Executiva Nacional em reunião de seis horas na sede do partido, em São Paulo. Como em outros escândalos com o PT e o governo, no caso de Berzoini coube ao acusado aparecer como agente da saída - Berzoini não foi afastado, pediu licença.

No caso de outros quatro envolvidos com o dossiê, o partido foi menos generoso. Foram expulsos ontem, por decisão da Executiva: Jorge Lorenzetti, churraqueiro de Lula e ex-diretor do Banco do Estado de Santa Catarina; Hamilton Lacerda, ex-coordenador da campanha do senador Aloízio Mercadante; Expedito Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil; e Oswaldo Bargas, amigo de Lula e ex-secretário-executivo do Ministério do Trabalho. Na pressa em diminuir o peso do escândalo para a candidatura Lula, o PT não respeitou seus trâmites usuais. Não existe expulsão sumária no estatuto, por isso os acusados deveriam passar por processo na Comissão de Ética. Esse procedimento, no entanto, não foi observado. A solução foi improvisar uma saída que foi chamada de 'expulsão política'. Lacerda e Lorenzetti haviam apresentado pedidos de desfiliação antes da reunião; Valdebran já estava suspenso pelo PT-MT.

Em carta entregue à imprensa, Berzoini diz que seu licenciamento durará o prazo necessário 'para o completo esclarecimento dos fatos'. Ele é acusado de ter conhecimento de que os outros envolvidos estavam negociando com a família Vedoin pagamento em troca de material contra tucanos e também sua veiculação na imprensa. Berzoini negou envolvimento. 'Reafirmo que jamais incentivei, determinei ou concordei com nenhuma forma de ilegalidade ou irregularidade nos assuntos que estiveram sob minha responsabilidade', disse.

No PT, é dado como certo que Berzoini não volta mais à presidência. Sinal disso foi o fato de ter ficado bastante emocionado na reunião. 'Essa posição é um risco muito grande. Não concordo, mas aceito', disse Berzoini, com voz embargada. Antes de jogar a toalha, ele tentou adiar a decisão até segunda-feira. Em vão. Lula queria esse desfecho, embora tenha dado declarações em contrário.

Garcia, já como presidente interino, não economizou afagos a Berzoini. 'Vou me ver livre desse abacaxi logo e devolvê-lo ao meu querido amigo e companheiro'. Depois Garcia explicou que não via o cargo como 'abacaxi' - era só uma ironia.

O presidente interino falou sobre o dossiê. 'A executiva repudia a atitude desses filiados, considera um equívoco substituir a disputa de projetos por esse tipo de prática, condena a promiscuidade com criminosos, bem como o total desrespeito à democracia partidária.'