Título: Investigação fica longe do Planalto
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2006, Nacional, p. A13

Escolhas feitas pela Polícia Federal para desvendar que pessoas estão por trás do dossiê Vedoin direcionaram até aqui as investigações para longe do Palácio do Planalto. A estratégia de manter o foco no empresário Valdebran Padilha, que já foi interrogado três vezes, tem como subproduto efeitos políticos que beneficiam o governo.

Essa linha de investigação acabou por responsabilizar Hamilton Lacerda, ex-assessor do senador Aloizio Mercadante (PT) na campanha ao governo de São Paulo. A PF acredita que foi ele quem entregou a Valdebran e Gedimar Passos parte do R$ 1,1 milhão e dos US$ 248,8 mil destinados a comprar o dossiê. Boa parte dos depoimentos, perícias e trabalho de inteligência da PF serviu a esse propósito. Ex-vereador em São Caetano, Lacerda leva a marca de ser um homem da máquina paulista do PT.

A PF demorou a apurar as operações de compra de dólares nos dias anteriores à prisão de Gedimar e Valdebran. Agora, já sabe de 20 mil operações em valores picados, em 24 corretoras. Mas não se empenha na identificação de pessoas ligadas aos dois que possam ter feito os saques.

Tentar identificar os sacadores olhando nomes e valores, como tenta fazer a PF, é, para especialistas do mercado financeiro, procurar uma agulha no palheiro. A única opção é cruzar o dados sobre operações com nomes extraídos de investigações estratégicas. Segundo apurou o Estado com fontes do mercado, a PF não procurou nenhuma das corretoras intermediárias na distribuição do lote de US$ 15 milhões que inclui os US$ 248,8 mil.

Também não há notícia de que a PF tenha buscado o depoimento de doleiros e donos das 24 casas de câmbio que venderam os dólares ou tenha levantado os que são alvo de investigações, mais suscetíveis a colaborar. A investida seria importante, no mínimo, para apontar laranjas que sacaram o dinheiro.

Ao descartar a participação de Freud Godoy, segurança e ex-assessor especial do presidente Lula, a PF indica que prefere focar as investigações mesmo em Lacerda, confinando mais uma vez o escândalo - neste momento, ao PT de São Paulo. A justificativa é de que, pelos dados obtidos com a quebra de sigilos telefônicos, Gedimar, Valdebran e Godoy só trocaram ligações em agosto.

Seria ingênuo imaginar que Godoy, um homem especializado no ramo da segurança, usaria o próprio telefone, caso tenha, como afirma Gedimar, participado da operação de compra do dossiê Vedoin. Um caminho seria identificar os homens de confiança de Godoy.

Por fim, a PF não conseguiu, até o momento, solucionar um dilema nas investigações: quer prender um dos envolvidos (o mais próximo da alça de mira é o ex-assessor de Mercadante) para, numa situação de pressão, obter depoimento revelador. Mas na própria polícia avalia-se que, pelo menos no caso de Lacerda, as chances de um pedido deste tipo vingar na Justiça são pequenas, sem informações concretas sobre a origem do dinheiro.