Título: 'Lula é um pouco caudilho', afirma FHC
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2006, Nacional, p. A20

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é 'um pouco caudilho'. Além disso, para defini-lo dentro do amplo espectro do caudilhismo latino-americano, FHC, em entrevista ao jornal argentino La Nación, disse que seu sucessor 'tem algumas características mais do peronismo do que do chavismo'.

Os analistas definem o peronismo, criado em 1945 pelo general argentino Juan Domingo Perón, como uma forma de governar com tons mais pragmáticos, capaz de adaptar sua ideologia a qualquer circunstância. O chavismo, referência ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tem toque ideológico mais persistente, menos poroso a mutações, temperado com generosas doses de autoritarismo.

Na entrevista, FHC afirmou que Lula 'não tem herdeiros políticos porque tem algo de caudilho'. 'E um caudilho sempre acha que ele próprio é único. E aqueles que o rodeiam pensam o mesmo.'

O ex-presidente afirmou que Lula 'é uma pessoa excepcional porque começou do nada'. 'Mas é uma pena porque o simbolismo de sua figura está sendo eliminado. Lula nunca foi um líder, mas um símbolo. É importante que um país tenha símbolos, e inclusive mitos. Mas agora o Lula-presidente está matando o Lula-símbolo.'

SEGUNDO MANDATO

Segundo FHC, um eventual segundo mandato de Lula 'seria mais difícil'. Fernando Henrique argumenta que o presidente 'não tem maioria no Congresso e terá que apertar a economia e as finanças públicas'.

'Se o Geraldo (Alckmin, candidato do PSDB à Presidência) ganhar, vamos ter que apertar muito durante o primeiro ano, e isso, politicamente, é ruim. Era melhor que ganhasse Lula', ironizou. 'Porque Lula aumentou muito o gasto público. Não fez reformas, não avançou.'

Avaliando os resultados do primeiro turno, afirmou: 'Onde Lula ganhou? No Brasil onde o desenvolvimento econômico é maio fraco e o Estado, mais forte. Onde os favores políticos são maiores. O Brasil ficou dividido, mas não entre ricos e pobres. Ficou dividido entre modernos e atrasados.'

Também referiu-se ao apoio a Lula dado pelo presidente argentino, Néstor Kirchner. 'O que o Kirchner vai fazer se Geraldo ganhar as eleições? Foi uma imprudência de sua parte declarar o voto ao Lula. Isso não se faz.'