Título: Rússia acusada de 'limpeza étnica'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2006, Internacional, p. A32

A Rússia deportou ontem 136 georgianos, dizendo que eles estavam ilegalmente no país, mas o chanceler da Geórgia, Gela Bezhuashvili, disse que o Kremlin adotou uma forma suave de 'limpeza étnica' a suas sanções contra seus vizinhos pró-Ocidente.

'Isso é terrível, nos sentimos como judeus durante a 2.ª Guerra, não como humanos', disse uma deportada que se identificou apenas como Irina. Mais de um milhão de georgianos vivem e trabalham na Rússia, muitos sem autorização. Suas remessas de dinheiro são uma importante contribuição para a economia georgiana, que enfrenta um alto desemprego.

Rússia e Geórgia vêm travando uma dura disputa desde a prisão na semana passada de quatro funcionários russos acusados de espionagem. Apesar de sua libertação, Moscou impôs uma série de sanções contra seu pequeno vizinho do sul e lançou várias medidas contra imigrantes e os negócios de georgianos na Rússia.

Funcionários do setor de educação disseram ontem que a polícia russa pediu aos colégios que entreguem listas com os nomes de crianças originárias da Geórgia. No entanto, a polícia negou a denúncia.

O presidente russo, Vladimir Putin, que enfrenta pressão internacional para levantar as sanções contra a Geórgia, reagiu ontem dizendo que o Ocidente deveria persuadir o governo da Geórgia a mudar suas políticas 'irresponsáveis'.

'Nossa posição é que a comunidade internacional não pode ignorar a responsabilidade das autoridades georgianas', denunciou Putin em uma carta enviada a Karel De Gucht, presidente em exercício da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

Putin rejeitou uma oferta da OSCE para mediar a disputa entre a Rússia e a Geórgia. 'Creio que, neste momento, os esforços da OSCE deveriam concentrar-se em estimular uma mudança fundamental da atual liderança da Geórgia', disse. Segundo Putin, tais políticas 'buscam aumentar a tensão e preparar um cenário militar para armar os conflitos entre Geórgia e Abkházia e Geórgia e Ossétia do Sul'. Abkházia e Ossétia do Sul são regiões georgianas separatistas respaldadas por Moscou. Tbilisi diz que quer restaurar o controle sobre os territórios por meios pacíficos.

A atitude desafiadora do presidente da Geórgia, Mikhal Saakashvili, diante da pressão russa rendeu-lhe uma ampla vitória nas eleições municipais de quinta-feira. Seu partido, Movimento Nacional Unido, obteve 66,4% dos votos.