Título: IPCA chega a 2%, o menor desde 98
Autor: Jacqueline Farid, Francisco Carlos de Assis
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2006, Economia, p. B1

Pressionado pelos salários dos empregados domésticos, cigarros, taxa de água e esgoto e vestuário - que juntos foram responsáveis por mais da metade da inflação de setembro - o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu para 0,21% no mês, ante 0,05% em agosto.

O resultado veio acima da média das estimativas do mercado financeiro (0,14%) mas não acendeu nenhum sinal de alerta sobre o comportamento dos preços. 'O cenário é bem confortável para a inflação', avalia a coordenadora de índices de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos. De janeiro a setembro, o IPCA acumula alta de 2%, o menor resultado no período desde 1998. A taxa em 12 meses (3,7%) é a menor desde junho de 1999.

A meta de inflação estabelecida pelo Banco Central para 2006 é de 4,5% e a inédita discussão entre os analistas econômicos, agora, é se o IPCA ficará abaixo do piso da meta, de 2,5%, já que o cumprimento do centro da meta já está assegurado.

Essa possibilidade é pequena na avaliação de Tatiana Pinheiro, do ABN Amro Bank, para quem só uma improvável continuidade na queda de preços dos combustíveis garantiria esse cenário. Para ela, só o fato de a inflação fechar abaixo do centro da meta já reflete um importante processo de desinflação.

Marcela Prada, da Tendências Consultoria, estima um IPCA de 2,9% em 2006 e acredita que a alta acima do esperado em setembro não interfere. Para ela, o aumento ocorreu por fatores pontuais e, mais especificamente, por grupos que vinham mostrando variações muito baixas para o período e voltaram ao normal, como vestuário. 'O que ocorreu agora foi um ajustamento dos preços.'

CONCENTRAÇÃO

Em setembro, a maior pressão na inflação foi dada pelos salários dos empregados domésticos que, ainda refletindo o aumento do salário mínimo de acordo com a metodologia do IBGE, subiram 1,97%.

Outras pressões importantes vieram de cigarros (2,72%), taxa de água e esgoto (1,89%) e vestuário (0,46%). Juntos, esses itens contribuíram com 0,14 ponto porcentual, ou mais da metade do IPCA do mês.

Para Eulina, o aumento na inflação em setembro ocorreu por causa de reajustes 'super concentrados e muito pontuais'. Segundo ela, 'a fisionomia de comportamento dos preços se manteve inalterada, há vários itens com preços estáveis e vários itens em queda'. A coordenadora acrescentou que 'para frente não se espera surpresas, a inflação está bem comportada'. Segundo ela, o dólar é o principal fator de contribuição para conter a inflação neste ano, com efeito nos preços dos produtos alimentícios e em outros itens importantes nas despesas das famílias.

Eulina destaca que o grupo dos alimentos, com 0,08% em setembro, está com preços estáveis há três meses e, apesar da pressão de itens como carnes (2,32%) e tomate (17,33%), na maior parte dos alimentos houve queda de preços.