Título: México se volta para a Petrobrás
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2006, Economia, p. B9

O presidente eleito do México, Felipe Calderón, manifestou ontem, em Brasília, interesse numa parceria entre a estatal mexicana Pemex e a Petrobrás. Ao tomar posse no próximo dia 1º de dezembro, Calderón estará diante de um tema delicado: enfrentar o desafio de quebrar o monopólio da Pemex ou deixar o caminho aberto para que, em 2016, o México enfrente o esgotamento de sua capacidade de produção de petróleo.

Calderón tratou do assunto com o presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, depois com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim e, em seguida, com o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.

¿A experiência da Petrobrás pode ser muito útil para a Pemex e o México¿, disse ele, ao final de seus compromissos oficiais no Brasil. ¿No futuro, podemos chegar a entendimentos com essa empresa pública latino-americana, que é a Petrobrás, e contar com a sua tecnologia para explorar todo o nosso potencial, que estará orientado para as águas profundas do Golfo do México.¿

Fontes que acompanharam as conversas comentaram que Calderón pretende incluir na agenda nacional a flexibilização do monopólio constitucional da Pemex. O desafio envolve a superação das resistências em sua base aliada, ainda em construção, e de seu mais forte opositor, Andrés López Obrador, a quem venceu nas eleições de julho com a diferença de apenas 0,58% do votos.

É um desafio que o atual presidente, Vicente Fox, não encarou em seis anos de mandato. Mas, para Calderón, a questão tornou-se inevitável. Ao lado da Coréia do Norte, o México é o país mais fechado do mundo no setor petrolífero. Entretanto, atualmente cabe à Pemex cobrir, com seu faturamento, parte dos gastos públicos mexicanos, o que praticamente neutraliza a sua capacidade de investimento.

O México depende da importação de gasolina e gás natural dos Estados Unidos, apesar de contar com grandes reservas de petróleo na parte mais profunda do Golfo do México.

Com Gabrielli, Calderón conversou sobre a flexibilização do monopólio da Petrobrás, que permitiu o investimento de companhias estrangeiras nas áreas de produção e distribuição. Também ouviu a exposição de Gabrielli sobre os principais contratos mantidos pela Petrobrás em outros países - em especial nos Estados Unidos, para a exploração no mesmo Golfo do México - e sobre parcerias para produção em águas profundas fora do território brasileiro.

Na conversa com Lula, Calderón pediu a cooperação brasileira na produção e criação de um mercado consumidor de etanol e de biodiesel no México. O presidente eleito destacou que, além dos benefícios ambientais e econômicos, a produção desses combustíveis seria uma alternativa para os produtores de cana mexicanos, que vão enfrentar em 2008 a liberação do ingresso de etanol produzido nos Estados Unidos.

Nos encontros, Calderón também destacou o interesse de ampliar as relações econômicas com o Brasil, mas não chegou a mencionar a negociação bilateral em curso sobre a liberalização comercial - empacada na sensibilidade brasileira nos setores químico e eletroeletrônico e na fragilidade da área agropecuária mexicana. Ele não demonstrou entusiasmo com a pretensão do atual presidente, Vicente Fox, de associar o México ao Mercosul.

¿Não há contradição entre fortalecer a relação México-Brasil e explorar mercados mais amplos, como o Mercosul¿, afirmou. ¿Aproximar o México da América Latina será prioridade de meu governo, independentemente de participar ou não do Mercosul.¿

Meu rabino contou esta piada no Yom Kippur. No início da fila do almoço numa escola paroquial havia um pote de maçãs com uma placa dizendo: ¿Pegue só uma. Deus está vigiando¿. No fim da fila, depois das entradas, havia um pote de biscoitos, no qual um estudante prendera um aviso: ¿Pegue quantos quiser. Deus está vigiando as maçãs¿. De certo modo, a piada me lembra do atual debate sobre o livre comércio nos Estados Unidos. No momento, com os republicanos no comando, o livre comércio está garantido. Porém, enquanto todos vigiam o começo da fila, lá atrás ocorre uma erosão do apoio ao livre comércio. As negociações de Doha ficaram paralisadas graças à oposição dos agricultores americanos. A autoridade da Casa Branca de negociar acordos de livre comércio sem que o Congresso possa emendá-los expira em breve. Com a provável tomada da Câmara ou do Senado por democratas protecionistas, qualquer novo acordo deve ficar paralisado.

Espero que os democratas não sigam este rumo. Sempre acreditei no livre comércio, acompanhado por melhores redes de segurança de previdência e saúde. Mas não sou mais um defensor do livre comércio. Agora sou um defensor radical do livre comércio. Por quê? Porque, na era de globalização, muita gente conta com as ferramentas de comunicação e inovação para colaborar a partir de qualquer lugar.

Num mundo assim, nossa sociedade só prospera com o máximo de educação, abertura e flexibilidade, para que sejamos mais capazes de fazer primeiro o que pode ser feito. É importante o fato de o Google ter sido inventado aqui. ¿A sociedade com a menor resistência ao fluxo ininterrupto de idéias, diversidade, conceitos e sinais competitivos vence¿, diz Nandan Nilekani, executivo-chefe da gigante da tecnologia indiana Infosys. ¿E a sociedade com capacidade de traduzir rapidamente o que pode ser feito - da idéia ao mercado - também vence.¿ A velha esquerda acha que o livre comércio é algo que só beneficia as multinacionais. Na verdade, ele é fundamental para pequenas empresas e indivíduos, que agora podem atuar multinacionalmente. São eles que criam bons empregos.

Semana passada, encontrei Doug Palmer no Nebraska. Ele e seu sócio, Pat Boeshart, fabricam fôrmas de concreto isolado para construções. A maneira tradicional de isolar o concreto com espuma é fabricar a espuma e então transportá-la pelo país até os locais de construção, para que seja anexada ao concreto. A companhia de Palmer, Lite-Form, encontrou uma máquina coreana que, combinada com dispositivos de sua empresa, pode fabricar a espuma e o concreto de uma só vez, economizando o transporte. Hoje, a companhia de Palmer, em South Sioux City, importa essas máquinas da Coréia, adiciona seus dispositivos e as exporta para o Kuwait.

A melhor forma de manter bons empregos nos EUA não é construir muros, e sim atrair pessoas com grandes idéias - e então lhes dar a liberdade para fazer o que puder ser feito com qualquer um, em qualquer lugar, a qualquer hora.