Título: Partido evita comissão de ética
Autor: Clarissa Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2006, Nacional, p. A13

Apesar de ter levantado a possibilidade de instaurar uma Comissão de Ética para os envolvidos no episódio do dossiê Vedoin, com enfático apoio de vários de seu líderes, o PT agora quer ver o caso fora da agenda. Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reeleito, o partido espera poder se livrar do desgaste de uma investigação interna, para se dedicar às discussões sobre a formação do novo governo e sobre seu papel no segundo mandato.

Alguns líderes ainda evitam descartar totalmente a abertura da comissão. Mas parte da direção já admite que a investigação interna está longe de ser a vontade do partido. 'A abertura da comissão seria uma agenda negativa em um momento em que o PT deveria se concentrar em discutir uma agenda positiva, debatendo como será o novo governo', afirma o secretário-adjunto de Comunicação da legenda, Francisco Campos.

O PT teria dois possíveis alvos para a Comissão de Ética: Oswaldo Bargas, sindicalista histórico e amigo de Lula, e Expedito Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil. Ambos tiveram participação no escândalo do dossiê e já foram 'expulsos politicamente' por decisão da Executiva Nacional, em outubro, ao serem punidos com suspensão de até 60 dias. Segundo o estatuto do PT, a expulsão formal só pode ocorrer caso esses filiados sejam submetidos ao processo ético. Mas isso significaria retomar o debate sobre o caso do dossiê Vedoin - com agendamento de depoimentos, convocação de testemunhas e montagem de um relatório sobre as irregularidades cometidas.

PRESSÃO

Para evitar esse desgaste, o PT espera conseguir de Bargas e Veloso um pedido espontâneo de desfiliação. Com isso, seguiriam os passos de dois outros envolvidos no escândalo, que também foram alvos da 'expulsão política': Hamilton Lacerda, ex-assessor de campanha do senador Aloizio Mercadante, e Jorge Lorenzetti, conhecido como o churrasqueiro de Lula.

'É melhor para eles e para o PT que peçam desfiliação. Isso vai poupar o partido de mostrar suas vísceras com disputas desnecessárias', diz Campos. Segundo ele, aliás, o melhor seria que isso ocorresse antes da reunião do Diretório Nacional do PT, marcada para o fim do mês.

O presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, ressalta que, do ponto de vista político, Bargas e Veloso já estão definitivamente fora do PT. Ele evita, porém, opinar sobre a iniciativa da desfiliação. 'As pessoas é que devem optar pelo que lhes parece melhor. Se não houver um desligamento espontâneo deles, nós avaliaremos a situação.'

Apesar de insistir que o PT seguirá 'à risca' os procedimentos formais para expulsar Bargas e Veloso, o secretário de Relações Internacionais do partido, Valter Pomar, também espera que eles tomem a dianteira. 'Acho que antes da reunião do diretório eles tomarão a iniciativa de se desfiliar.'

Caso Bargas e Veloso concordem em deixar espontaneamente o PT, apenas um petista ficaria na mira de processo disciplinar: Valdebran Padilha, preso com o dinheiro para a compra do dossiê. Ele já é alvo de uma Comissão de Ética aberta no diretório de Mato Grosso, onde é filiado.

Assim, o PT tende a passar por situação semelhante à ocorrida no escândalo do mensalão. Na época, só o ex-tesoureiro Delúbio Soares foi alvo da investigação interna. Acabou expulso por decisão do Diretório Nacional.