Título: Yeda prevê ajuste para salvar RS
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2006, Nacional, p. A16

O Rio Grande do Sul, símbolo de progresso e riqueza, está na lona. A tarefa que desafia a governadora eleita Yeda Crusius (PSDB) é imensa: o Estado compromete 19% de sua receita líquida para pagar a sua dívida e a do Banrisul, que não foi privatizado. ¿Milagres não existem¿, diz Yeda, enquanto se prepara para pedir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que a parcela mensal do pagamento da dívida estadual seja reduzida em 4 pontos porcentuais.

Para começar bem sua relação com Lula, ela recorreu à ministra Dilma Roussef, numa aliança gaúcha um tanto artificial - Dilma é mineira e ela, paulista. Yeda promete implantar o ajuste fiscal que os seus antecessores não fizeram. Mas a falência não se resume ao governo estadual: depois de duas estiagens devastadoras, a modelar agricultura gaúcha está no chão e a cadeia produtiva que depende dela, em crise total. Eis a entrevista:

A senhora assumirá a pior situação fiscal entre os Estados. Fará o ajuste fiscal que seus antecessores não fizeram?

A crise do Rio Grande é muito grave e está sendo configurada há muito tempo. A hora exige alguém que saiba fazer o ajuste fiscal. Eu vou elaborar uma política de ajuste fiscal, vou usar o que houver de melhor, chamar gente do PMDB, do PP, do PDT, do PPS e até do PT. O Rio Grande precisa crescer e para isso não pode limitar seus investimentos a apenas 5% da receita. Precisamos investir mais e para isso vamos enfrentar, sim, a crise fiscal.

O Rio Grande compromete 13% da receita com o serviço da dívida e mais 5% do Proes que socorreu o Banrisul. Os inativos representam 51% da folha de pessoal. Qual a receita da salvação?

Milagres não existem. Quando as despesas básicas do Estado chegam a 120% da receita, não dá para adiar soluções. Vou trabalhar para melhorar a eficiência do Estado na arrecadação, na qualidade na gestão da receita, no controle e qualidade dos gastos e na gestão, como um todo. Vou propor mudar o porcentual de pagamento da dívida do Estado. Se em vez de comprometer 13% da receita, recolher apenas 9%, esses 4% vão ajudar muito. Tenho conversado com a Assembléia, com o Judiciário, com os partidos. Tenho recebido sinais estimulantes do PT à prudência fiscal com que pretendo governar.

A senhora enfrentou um segundo turno pesado contra o PT gaúcho e agora vai conversar com Lula. Vocês vão se entender?

Antes de tudo, temos de fazer o dever de casa, que depende só do nosso esforço. Quanto ao governo federal, estou pronta para dialogar desde já, mas também para exigir o que não tem chegado ao Estado: compensações da Lei Kandir, redistribuição de tributos e investimentos em infra-estrutura que o governo federal parou de fazer. O presidente Lula já afirmou que o seu segundo governo será diferente. Temos visões de mundo muito diversas, mas isso não pode implicar falta de diálogo. Já falei com os ministros Dilma e Tarso. Eu me dou muito bem com Dilma, muito bem mesmo, e pedi a ela para marcar uma audiência com o presidente. Tenho certeza que ele não vai me negar as soluções que vou apresentar.