Título: ONG cria grupo de apoio a agressores de mulheres
Autor: Rubens Santos e Simone Iwasso
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/11/2006, Vida&, p. A26

Pode parecer um paradoxo à primeira vista, mas não é. Uma ONG que trabalha pelo fim da violência contra a mulher resolveu ajudar os homens agressores. Há quatro meses, o Instituto Pró-Mulher, Família e Cidadania promove em uma igreja,em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, um grupo de apoio aos autores de violência contra as mulheres.

As reuniões, nas noites de sexta, revelam exatamente o que se esperaria encontrar em um grupo das vítimas de agressões - dor e baixa auto-estima. 'Para resolver esse problema percebemos que tínhamos de resolver o problema dos homens', diz Sérgio Barbosa, bacharel em Filosofia e um dos organizadores dos encontros.

Há seis anos, ele trabalha com o que chama de programas reflexivos. O objetivo desse grupo para agressores é fazer com que os homens se responsabilizem pelas agressões e entendam as conseqüências. Um processo que passa pela conscientização da violência como elemento da própria formação da masculinidade. Para Barbosa, nesse contexto, a Lei Maria da Penha traz avanços significativos, pois estabelece o apoio psicossocial. 'Fazer o agressor pagar a cesta básica não altera seu comportamento violento', diz.

O que pode alterar esse comportamento - a reeducação e a consciência do papel do homem na sociedade - não vem facilmente. 'A todo momento eles tentam negar o fato, não tocar no assunto e jogar o problema para a mulher', revela.

É comum também que eles cheguem às reuniões frustrados e deprimidos. Barbosa revela que isso pode chegar a situações extremas, como um de seus 'pacientes', que tentou se matar após agredir a mulher.

'O homem que bate também sofre', diz a psicóloga do Instituto Pró-Mulher, Cristina Sawaia. É preciso cuidado para analisar a afirmação, segundo ela. Não se trata de retirar a culpa do agressor, mas sim mostrar suas fraquezas.

Quanto ao perfil dos agressores, os dois são unânimes em responder. Assim como não existe um perfil para as mulheres vítimas de agressão, não existe o perfil do agressor. 'A violência faz parte da constituição da personalidade masculina, por isso atinge todas as classes sociais', diz Barbosa.

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