Título: Bolso pesou na hora de votar para presidente
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2006, Nacional, p. A5

A distribuição geográfica do voto indica que o bolso do eleitor teve participação decisiva na escolha entre Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin. De maneira geral, a votação do petista caiu, em relação a 2002, em áreas diretamente prejudicadas por políticas federais - sobretudo as ligadas ao agronegócio - e cresceu nas áreas em que ocorreu o inverso.

A análise por microrregiões do Brasil também mostra que Alckmin enfrentou problemas menos estruturais e mais diretamente relacionados às dinâmicas de campanha. Das 558 microrregiões do País, em apenas 23 o tucano aumentou sua votação do primeiro para o segundo turno e só uma delas fica em Estado em que o PSDB era força hegemônica.

O estudo que permite essas obervações foi feito pelo cientista político Cesar Romero Jacob, da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-RJ), com a colega de instituição Dora Rodrigues Hees e os franceses Philippe Waniez, do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), e Violette Brustlein, do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS). Foi usada a divisão do Brasil em microrregiões por semelhança, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com mapas em que as cores mostram a evolução do desempenho dos candidatos.

O método torna nítido o crescimento da candidatura tucana do primeiro turno de 2002 para o primeiro de 2006 em microrregiões do Sul (especialmente Santa Catarina e parte do Rio Grande do Sul), São Paulo, Centro-Oeste, Roraima e parte do Pará. ¿São áreas de agronegócio, que sofrem com o dólar baixo¿, aponta Jacob.

O pesquisador credita a vitória de Lula a uma combinação de fatores, como economia estabilizada, com inflação baixa e dólar barato, os programas sociais racionalizados e ampliados, como o Bolsa-Família, mais competência nas alianças e o discurso para a classe média, centrado no repúdio à privatização. Mas chama a atenção para o peso do bolso do eleitor na decisão. ¿O discurso da ética adotado por Alckmin talvez não tenha funcionado porque a classe média ficou dividida entre o bolso e a consciência¿, acredita. ¿Mas, no final, os dois lados votaram com o bolso¿, diz, numa referência aos que escolheram Lula por estarem satisfeitos e aos que, insatisfeitos, escolheram Alckmin.

Jacob observa que nenhuma área em que o tucano cresceu no segundo turno fica em Minas, onde o governador Aécio Neves foi reeleito com 77% dos votos, ou no Ceará do presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati. ¿Ou os grão-tucanos não vestiram a camisa da candidatura ou vestiram e não têm tanta influência sobre os eleitores¿, diz Jacob. ¿Cadê a máquina partidária?¿

A cidade de São Paulo, terra do governador eleito José Serra, foi a única área em que o PSDB é hegemônico e na qual houve crescimento de Alckmin.