Título: O vascaíno Cabral quer ser o Aécio do Rio
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2006, Nacional, p. A14
O governador eleito do Rio, Sérgio Cabral Filho, do PMDB, mal saiu de uma campanha e já entrou em outra. De candidato, passou a cabo eleitoral do ex-craque Roberto Dinamite para a presidência do Vasco da Gama. Gravou mensagem de apoio, quarta-feira, antes de viajar para uma semana de descanso, depois da maratona que lhe rendeu 5,1 milhões de votos. Está empenhado em derrotar, dia 13, o presidente do clube, Eurico Miranda. Como se vê, não corre só política partidária nas veias do senador de 43 anos, que começou a carreira aos 27, eleito para a Assembléia.
¿Sou carioca do Engenho Novo, vascaíno e mangueirense¿, apresenta-se o filho do jornalista Sérgio Cabral, um dos maiores pesquisadores de música popular do País, e da museóloga Magali. Zagueiro nos tempos da juventude, já não se dedica muito ao esporte, mas não perde uma torcida no Maracanã. Ou no São Januário, o estádio do Vasco.
A militância do pai no PCB, nos anos 70, levou o jovem Serginho a um almoço do partido, aos 14 anos. O rapaz fez até discurso. Mais tarde, ingressou na juventude do PMDB, onde conheceu e tornou-se amigo do governador de Minas, Aécio Neves. O primeiro casamento de Cabral foi com Suzana Neves, prima de Aécio. A amizade com o tucano mineiro permanece e Aécio é um dos políticos mais admirados por Cabral. O peemedebista inspira-se no choque de gestão, que promete aplicar no Rio, feito por Aécio, reduzindo à metade o número de secretarias e o custeio da máquina pública. Cabral quer ser o Aécio do Rio.
Com Suzana, teve três filhos: João Pedro, de 17 anos, Marco Antônio, 15, e José Eduardo, 11. Divorciou-se e casou com a advogada Adriana Ancelmo, com quem tem mais dois meninos: Tiago, de 4 anos, e Mateus, nascido há apenas dois meses.
Embora diga ter uma relação ¿fraterna¿ com o casal peemedebista Rosinha e Anthony Garotinho, que governou o Estado nos últimos oito anos - primeiro ele, depois ela -, Cabral está disposto a mudar a imagem do governo do Estado, associada a uma política populista e assistencialista. O governador eleito fala em agilidade, modernidade e eficiência. Também promete romper uma tradição de décadas: o confronto entre governantes da capital e do Estado com o governo federal. Cabral fez uma aliança no segundo turno com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aposta em recursos federais para obras de infra-estrutura e parcerias na segurança pública e na saúde.
Cabral sabe que vai comprar briga ao reduzir a estrutura do governo. Não será a primeira. Como presidente da Assembléia, demitiu funcionários fantasmas e reduziu gastos. Já no Senado, para onde foi eleito com 4,2 milhões de votos, em 2002, teve atuação discreta. Manteve como principal carro-chefe a defesa dos idosos, mas não entrou em grandes polêmicas nem nas ruidosas CPIs.
Antes de voltar ao PMDB, militou no PSDB do Rio. Uma briga com o então governador Marcello Alencar, do mesmo partido, fez Cabral tomar outro rumo. Alencar chegou a denunciá-lo ao Ministério Público do Estado por enriquecimento ilícito. Alegava que o então presidente da Assembléia não tinha renda para comprar mansão em sofisticado condomínio do município de Mangaratiba, em 1998.
Cabral registrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) patrimônio de R$ 650 mil. A casa de Mangaratiba está registrada com o valor de R$ 200 mil, ou seja, quanto Cabral pagou por ela, há oito anos. A lei permite que o valor não seja atualizado, mas vale no mínimo três vezes mais. Ele defendeu-se dizendo que parte de seu patrimônio vinha de serviços de consultoria em turismo, área em que trabalhou antes de entrar para a política. A investigação não avançou. Recentemente, Cabral e Alencar fizeram as pazes. A origem dos recursos de Cabral voltou à tona nesta campanha, provocada pela adversária no segundo turno, a deputada Denise Frossard (PPS). Cabral deu a mesma explicação.
Serginho cresceu convivendo com intelectuais, sambistas, atores, diretores. Ouve Paralamas, Skank e acha Martinho da Vila o sambista mais completo. Gosta de cinema italiano e francês e é grande admirador de Caetano Veloso. Tem hábitos sofisticados. Veste-se com roupas de grife, freqüenta restaurantes elegantes e mora em uma cobertura no valorizado bairro do Leblon.
Disputou a prefeitura do Rio em 1996. Foi derrotado e decidiu apostar na continuação da vida parlamentar. Em campanhas passadas, resistiu a pressões para ser candidato de novo. ¿Eu achava que não estava pronto. Desta vez, me preparei para ser candidato e para ganhar, claro¿, disse, depois da vitória.