Título: Coréia rejeita negociar com Japão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2006, Internacional, p. A16

A Coréia do Norte pediu ontem a exclusão do Japão da mesa de diálogo multilateral sobre seu programa de armas nucleares, retomando a retórica de confronto antes de voltar às negociações. Até agora participavam da mesa, além da Coréia do Norte e do Japão, EUA, Coréia do Sul, China e Rússia.

A rejeição de Pyongyang à participação japonesa foi motivada pela resistência de Tóquio em reconhecer a Coréia do Norte como potência nuclear e sua insistência em discutir na cúpula multilateral os seqüestros de 13 cidadãos japoneses por espiões norte-coreanos nos anos 70 e 80.

A Coréia do Norte qualifica de ¿insensato¿ o comportamento dos líderes políticos japoneses em relação ao teste nuclear que o país comunista realizou em 9 de outubro. ¿As autoridades japonesas têm demonstrado claramente que são apenas políticos imbecis, incapazes de perceber a verdadeira situação¿, declarou um porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da Coréia do Norte à agência de notícias oficial KCNA. Desde o teste, a Coréia do Norte se descreve como ¿uma potência nuclear responsável¿.

O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, mantém uma atitude dura em relação a Pyongyang e se recusa a debater qualquer alívio nas sanções impostas pela ONU após o teste enquanto não houver disposição real do governo comunista de resolver os problemas do desarmamento e dos seqüestrados japoneses.

¿Seria muito melhor para todos se o Japão se abstivesse de tomar parte nas reuniões multilaterais¿, disse um funcionário do regime de Kim Jong-il. O representante de Pyongyang acrescentou ainda que, com menos participantes, haveria ¿negociações mais produtivas¿.

O ministro de Relações Exteriores do Japão, Taro Aso, disse que Tóquio insistirá nas manutenção das sanções apesar do retorno de Pyongyang à mesa de negociações multilateral.

Um funcionário do governo da Coréia do Sul afirmou ontem que a reunião multilateral deverá se concentrar no desmantelamento do programa nuclear norte-coreano e na segurança da região. Analistas locais interpretaram a declaração do sul-coreano como um pedido para que o Japão desista de incluir assuntos bilaterais com a Coréia do Norte na agenda do encontro, cuja normalização parece iminente após um ano sem reuniões.

As negociações estão bloqueadas desde a quinta rodada, de novembro de 2005, quando a Coréia do Norte se retirou da mesa em protesto ao bloqueio de suas contas bancárias no exterior imposto pelos EUA. Na terça-feira, num encontro em Pequim, os norte-coreanos chegaram a um acordo com os EUA e a China para a retomada do diálogo.

Washington iniciou os preparativos e enviou o subsecretário de Estado para Assuntos Políticos dos EUA, Nicholas Burns, para a Ásia neste fim de semana. O secretário de Estado adjunto de Segurança Internacional e Controle de Armas americano, Robert Joseph, acompanha Burns. Joseph viajará também a Seul, segundo fontes sul-coreanas, apesar do anúncio prévio de que ele não visitaria a capital do país.

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