Título: Países debatem crise ambiental
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2006, Vida&, p. A29

Começa amanhã a principal conferência ambiental do mundo, a COP-12, em Nairóbi, no Quênia, ou 12ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Ela reúne quase todos os países do mundo em torno de um problema comum.

O aquecimento global, provocado pelo efeito estufa, passou de previsão para realidade. Há consenso entre pesquisadores e boa parte dos governantes sobre a responsabilidade dos homens e sobre seus impactos no clima.

Na semana passada, em um passo histórico, o governo britânico divulgou o relatório A Economia da Mudança Climática, em que calcula perdas entre 5% e 20% do PIB mundial, por ano, causadas pelo aquecimento e suas conseqüências.

Mas o peso que a reunião ganha ano após ano não é suficiente para fazer com que a mais poderosa economia do mundo (e o principal emissor de gases que provocam o efeito estufa), os Estados Unidos, empunhe a bandeira ambiental. O presidente George W. Bush se recusa a participar do único mecanismo global existente hoje para minimizar o problema, o Protocolo de Kyoto.

ENVOLVIMENTO

No filme Uma Verdade Inconveniente, o ex-vice-presidente americano Al Gore cita a solução para o buraco na camada de ozônio como exemplo de um esforço único em prol da saúde do planeta. Se foi feito uma vez, é possível novamente, diz.

A barreira é o senso de urgência entre a sociedade. E aí uma imagem ou um fato valem mais do que mil palavras em relatórios e conferências. Apesar dos alertas e das evidências científicas, a proibição dos CFCs, que minam o ozônio, foi alimentada pelas imagens inequívocas de um buraco - gigantesco e real - na camada. Lobby da indústria e incertezas do público se apequenaram diante do impacto visual.

Ainda falta um símbolo de igual força para o problema do aquecimento global.

A devastação da cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos, pelo furacão Katrina em 2005 foi um forte candidato e atinge os corações americanos. Mas não foi suficiente para sensibilizar o mundo e calar os céticos de plantão.

Acontece que talvez não haja nunca um símbolo forte para mobilizar o mundo em torno da questão até que seja tarde. Os gases-estufa são invisíveis e as mudanças climáticas, progressivas. A humanidade se acostuma com a graduação e demora a reagir.

No Brasil, por exemplo, discute-se pouco sobre adaptação. Projeções sobre os impactos não são inseridas em programas de governo, da construção de hidrelétricas a planos de conservação. Ainda assim, estudos nacionais indicam quedas na produção agrícola e transformação de boa parte da Amazônia em cerrado. Poucas pessoas leigas sabem que a maior contribuição do Brasil para a piora do efeito estufa é a derrubada da floresta amazônica, o que coloca o País entre os maiores emissores do mundo.

EFEITO DO CORTE

Neste sentido, para evitar novas cobranças da comunidade internacional, a delegação brasileira leva para Nairóbi a proposta da criação de um mecanismo que premie os países tropicais que preservarem suas florestas.

A idéia é que os países pobres que guardam os estoques vegetais - e o Brasil é o maior deles - reduzam a derrubada e ganhem por isso, em dinheiro ou algum outro tipo de incentivo. Pagariam os países desenvolvidos.

Tudo seria feito de forma voluntária, já que o Brasil tem alergia a assumir metas fixas de redução da emissão de gases do efeito estufa - dentro do escopo de ¿responsabilidade comum, porém diferenciada¿ que rege a convenção, país pobre sofre menos sanções do que o rico. ¿Se o Brasil, por esforço próprio, dá uma contribuição para reduzir o problema, ela tem de ser reconhecida e apoiada¿, diz o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco.

Para Mauro Armelin, da ONG WWF-Brasil, a proposta vai se tornar interessante a partir do momento em que metas claras de combate ao desmatamento sejam estabelecidas. ¿Se não no âmbito internacional, pelo menos nacionalmente.¿