Título: Estatal brasileira pode virar coadjuvante no país
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2006, Economia, p. B7

Maior companhia de petróleo em operação até agora na Bolívia, a Petrobrás começa a redefinir seu papel no mercado boliviano depois da mudança imposta pelo novo projeto petrolífero do governo de Evo Morales. A companhia pode deixar a posição de protagonista que teve até agora e se tornar coadjuvante no cenário local. Era a única empresa que participava de toda a cadeia de gás natural e petróleo: da sondagem de campos, passando pela exploração ao refino e a distribuição do combustível por todo o país.

Segundo José Fernando de Freitas, presidente da Petrobrás Bolívia, o faturamento atual da companhia no mercado boliviano é de US$ 1,2 bilhão por ano, mas deverá ser reduzido quando a Petrobrás entregar à Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) o controle das refinarias de Santa Cruz de la Sierra e Cochabamba, estas com capacidade de processar 60 mil barris de petróleo por dia.

Para uma boa comparação, as duas unidades bolivianas equivalem a apenas uma refinaria da estatal brasileira no Brasil, a Refinaria de Paulínia, no interior de São Paulo, a maior unidade do tipo em operação no País.

A presença da Petrobrás na Bolívia sempre respondeu mais a uma necessidade estratégica da companhia e do governo brasileiro do que à perspectiva de lucro. Números da própria estatal mostram que o peso da Bolívia no resultado financeiro é modesto.

A operação na terra de Evo Morales contribuiu com 1,5% das receitas operacionais líquidas da Petrobrás em 2005. O lucro líquido obtido na Bolívia equivale a 1,1% do total. As reservas locais representam 3,7,% do total da companhia. Aliás, um dos ganhos obtidos pela Petrobrás na dura negociação com a YPFB foi a garantia de que essas reservas continuam sendo anotadas nos balanços da companhia.

Presença Foi o acordo com a Bolívia que permitiu ao Brasil incluir o gás natural na matriz energética. O combustível representa cerca de 8% do consumo de energia do País. Há dez anos, esse volume era inferior a 1%. Esse estupendo crescimento ocorreu após a decisão de permitir que a Petrobrás aportasse na Bolívia e investisse sozinha mais de US$ 1 bilhão.

Há, por enquanto, garantias de que os ativos nos campos de produção de petróleo e gás natural não sejam expropriados, mas pagos ao longo do tempo. Apesar da sugestão do presidente Evo Morales de que o governo brasileiro poderia ¿presentear as refinarias para a Bolívia¿, Petrobrás e YPFB vão discutir o valor das unidades e alguma compensação deverá ser paga.

Mesmo menor, a presença da Petrobrás na Bolívia pode ampliar as garantias de que o mercado brasileiro de gás - criado e estimulado pela própria estatal - será atendido. Foi esta, aliás, a razão principal que levou a companhia brasileira a ceder ante a infinidade de ameaças de Evo. ¿Continuar como operadores dos campos que respondem por 70% da produção do gás enviado ao Brasil será uma garantia adicional de que o fornecimento aos consumidores brasileiros será mantido¿, afirma Freitas.