Título: 'Efeito Evo' adia plano da empresa para o gás natural
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/11/2006, Economia, p. B7

Antes de Evo Morales, a perspectiva da Petrobrás no mercado boliviano era de forte expansão. O projeto foi congelado, mas a evolução acima de 10% da demanda de gás natural por ano no Brasil levou a companhia brasileira a anunciar a ampliação da capacidade do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol). A idéia era criar nova infra-estrutura para ampliar a importação dos atuais 30 milhões para 45 milhões de metros cúbicos por dia. Somado ao aumento da oferta interna, haveria gás para suportar o crescimento do consumo interno. O plano topou com Evo.

A mudança da política hidrocarborífera determinada pelo novo governo anulou, ao menos por enquanto, o projeto. Isso criou grande problema para a Petrobrás no Brasil, já que sem esse crescimento de 50% na importação de gás boliviano, a estatal foi obrigada a acelerar projetos internos, como a antecipação da produção no Campo de Mexilhão, na Bacia de Santos, e na Bacia do Espírito Santo.

Além do aumento da capacidade do Gasbol, a Petrobrás acalenta um projeto petroquímico na fronteira, em parceria com a Braskem:a construção de uma unidade para processamento do gás. A matéria-prima extraída (o etano) seria usada para a produção de polietileno. Mas, de novo, a perspectiva de ampliar os negócios na Bolívia também na área petroquímica está sob ameaça.

A YPFB assinou com a venezuelana PDVSA acordo para a construção de uma unidade de separação de líquidos na Estação de Rio Grande, de onde parte o gasoduto para o Brasil.

Se o negócio for adiante, o plano da Petrobrás de ter uma unidade petroquímica em Corumbá fracassará, porque todos os componentes nobres presentes no gás natural serão retirados antes. Para isso, a YPFB terá de renegociar o contrato com a Petrobrás, mas, de qualquer forma, é um ambiente de risco que não estimula ninguém a investir.

Para Carlos Miranda, ex-ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia e um dos maiores especialistas no setor de petróleo e gás do país, o governo Evo ¿feriu o orgulho corporativo¿ da Petrobrás. Seria importante, segundo ele, que a Bolívia não perdesse a capacidade técnica da estatal brasileira. Para ele, o governo boliviano deveria assegurar investimentos para ampliar a venda de gás para o Brasil e estimular o desenvolvimento da unidade petroquímica.

Sobre o primeiro projeto, há muitas dúvidas se a Bolívia tem capacidade de manter contratos. Com relação à petroquímica, o plano de industrialização, não parece contar com a Petrobrás como opção. Além da PDVSA, a YPFB fechou acordo com a argentina Enarsa para desenvolver um projeto de industrialização do gás.

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