Título: Garcia afirma que 'lei do silêncio' não alcançará o PT
Autor: Vera Rosa, Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2006, Nacional, p. A7

A cúpula do PT defende novos rumos para a política econômica no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, prega a queda mais rápida dos juros e não se intimida com a ordem dada pelo presidente aos ministros, recomendando o fim do fogo amigo. Na prática, a direção do partido concorda em gênero, número e grau com a 'ala desenvolvimentista' da Esplanada dos Ministérios e quer puxar o governo Lula para a esquerda, a partir de 2007.

'A lei do silêncio não alcançará o PT', garantiu o presidente interino do partido, Marco Aurélio Garcia, que chegou até a prescrever calmante para a ansiedade do mercado em relação à indefinição no Banco Central. 'Para insegurança há uma série de remédios, como Valium', brincou. Garcia destacou que a campanha eleitoral 'já foi mais à esquerda' e fixou as bases para o novo governo, centradas no crescimento econômico com distribuição de renda.

A polêmica entre desenvolvimentistas e monetaristas foi ressuscitada depois da eleição porque existem no governo duas visões distintas sobre a melhor maneira de atingir 5% de crescimento do PIB ao ano. Os dirigentes do PT querem a manutenção de Guido Mantega no Ministério da Fazenda, mas, em conversas reservadas, torcem pela saída do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, responsável por uma política monetária considerada muito ortodoxa pelo partido.

Mantega é do PT, tem o apoio dos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Tarso Genro (Relações Institucionais) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e, no diagnóstico de seus companheiros, 'arejou' o ajuste fiscal comandado pelo antecessor, Antonio Palocci. No Palácio do Planalto, ministros temem que Palocci - eleito deputado seis meses depois de ter sido indiciado pela Polícia Federal por ordenar a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa - continue influenciando as decisões de Lula sobre economia.

Sem meias palavras, o secretário-geral licenciado do PT, Raul Pont, foi taxativo: na sua opinião, Meirelles deve sair. 'Eu, pessoalmente, acho que esse cidadão já tinha de ter deixado o comando do Banco Central há muito tempo', observou. 'Se o governo vai baixar os juros no ritmo que o PT propõe, eu não sei, mas nós vamos continuar brigando por isso.'

Em tom mais moderado, Garcia disse que o Ministério da Fazenda está em 'muito boas mãos'. Não quis tecer avaliações, porém, a respeito de Meirelles. 'Por que fulanizar os problemas da política econômica?', perguntou. 'Fique ou saia o doutor Meirelles, quem vai dar as grandes orientações é Lula. E o presidente não foi eleito pelo mercado.'