Título: Eficiência das armas usadas mostra trunfo iraniano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2006, Internacional, p. A11

Os mísseis do Irã funcionam. A surpresa do teste realizado ontem no sul do país fica por conta da eficiência das armas usadas no ensaio, com lançamentos simultâneos e uso de vários tipos de ogivas de ataque.

O exercício deixou claro que os mísseis do Irã podem atingir alvos em todo o Oriente Médio - inclusive instalações militares dos Estados Unidos.

Na operação Grande Profeta, os generais da Guarda Revolucionária mandaram para o ar em Qom, perto do Golfo de Omã, dezenas de mísseis armados com ogivas variadas, uma delas carregada com 1.400 pequenas bombas destinadas a provocar uma espécie de chuva de fogo e aço quente sobre 750 metros quadrados.

Também efetuaram complexos lançamentos em salva, conduzindo cargas não explosivas de ataque de até 1 tonelada. O chefe da manobra,Yahya Rahim Safavi, disse aos jornalistas que os índices de erro foram, na média, inferiores a 3%.

Os Shahab-2 e Shahab-3 (veja o quadro), empregados largamente, são guiados por uma combinação de plataforma inercial e sinais de satélite/GPS. O Irã mantém em desenvolvimento os Shahab- 4 e Shahab-5, ainda em fase experimental.O primeiro cobriria entre 2 mil e 3,5 mil quilômetros. O segundo, com alcance intercontinental, chegaria aos EUA e à Europa. O receio das potências ocidentais é de que esse arsenal em formação venha ser equipado com explosivos nucleares, químicos ou biológicos de alto poder letal.

Os aiatolás investem pesado em um programa autônomo de capacitação nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) estima que a cada ano o empreendimento consuma US$ 1,4 bilhão. Esse poder de fogo devastador pode demorar poucos meses até uma primeira explosão. Depois disso, talvez 10 anos para ser uma ameaça efetiva, de acordo com o relatório apresentado em 28 de abril pela AIEA. Não é o único desafio representado pela capacidade militar iraniana.

As forças convencionais são perigosas mesmo descontada a eventual incorporação de armas de destruição em massa. O contingente total soma 1 milhão de combatentes, mais cerca de 350 mil reservistas de primeira linha.

Exército, Marinha e Aeronáutica dispõe de bons equipamentos, feitos no país em um complexo formado por 240 fábricas. O programa, coordenado pela Indústria de Defesa do Irã, emprega 60 mil homens e mulheres. Desde 1990 o governo tem aumentado os gastos com tecnologia militar em US$ 300 milhões por ano. Compras externas foram intensificadas a partir de 1991.

Acordos de cooperação com a China, a Rússia, a Ucrânia e a Coréia do Norte resultaram em projetos comuns, como o do míssil de cruzeiro X-55. O general ucraniano Svyatoslav Drako Piskum, intermediou a venda para Teerã, em 2005, de 12 unidades da configuração AS-15 dessa arma móvel, que pode atingir alvos a 2.500 km de distância. O Instituto Internacional de Estudos Estratégicos de Londres (IISS) estima que haja 50 unidades doX-55 em poder da Guarda Revolucionária. Técnicos locais e norte-coreanos modernizaram cerca de 300 mísseis Scud-C, fornecidos pela extinta União Soviética, e criaram novas armas. Algumas delas das séries Shaheen, Hatf, e Oghab entraram no teste de ontem.