Título: Irã faz teste múltiplo de mísseis
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2006, Internacional, p. A11

A Guarda Revolucionária do Irã testou ontem dezenas de mísseis, incluindo o Shahab-3 de longo alcance, no início de manobras militares que devem durar dez dias, informou a TV estatal. O governo de Teerã disse que as manobras, batizadas de 'O Grande Profeta' e que incluirão exercícios militares no Golfo Pérsico e no Mar de Omã, buscam demonstrar 'a força defensiva' do país.

A TV mostrou vários tipos de mísseis sendo disparados de rampas móveis. O míssil Shahab-3, por exemplo, pode carregar uma ogiva nuclear e teria um alcance máximo de 2 mil quilômetros, podendo atingir Israel e forças dos EUA no Oriente Médio.

A capacidade de o Irã fazer lançamentos múltiplos de mísseis de longo alcance surpreendeu o Ocidente.

Em Washington, a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, disse ontem que os testes de mísseis do Irã eram uma tentativa de demonstrar sua força ao mundo. Mas, segundo ela, o Irã está consciente de que a segurança na região é tão grande que o país pagaria um preço 'se efetivamente fizesse algo'.

Segundo a TV estatal iraniana, vários mísseis de curto alcance também foram disparados em uma área desértica do centro do Irã durante as manobras, que ocorreram dois dias após os EUA encerrarem exercícios navais no Golfo Pérsico. Austrália, Bahrein, Grã-Bretanha, França e Itália também participaram dos exercícios, que se concentraram no treinamento para interceptação de navios suspeitos de transportar armas ilegais.

'Queremos mostrar nosso poder defensivo e de dissuasão aos inimigos transregionais e esperamos que eles entendam a mensagem das manobras', disse o chefe das forças de elite iranianas, general Yahya Rahim Safavi, aparentemente se referindo aos EUA e outras potências ocidentais.

O Irã realiza manobras regularmente para testar os armamentos desenvolvidos por sua indústria bélica. Mas os exercícios ocorrem em meio ao aumento da tensão entre Teerã e as potência ocidentais, que estudam um projeto de resolução com sanções contra o Irã, que rejeita paralisar seu programa de enriquecimento de urânio.

Os EUA e outros países temem que o Irã esteja tentando desenvolver armas nucleares, mas Teerã garante que seu programa atômico busca apenas suprir a crescente necessidade de energia. O Irã é o segundo produtor mundial de petróleo e o quarto exportador.

Desafiando as potências ocidentais, o Irã confirmou esta semana que duplicou sua capacidade de enriquecimento ao injetar gás hexafluoreto de urânio em um segundo conjunto de 164 centrífugas instaladas na usina de Natanz. Especialistas estimam que o Irã seria capaz de produzir urânio para fins militares somente em um prazo de três a dez anos, com milhares de centrífugas trabalhando sem parar.