Título: Morte por dengue bate 2º recorde
Autor: Ricardo Westin
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2006, Vida&, p. A14

Embora ainda não tenha terminado, 2006 já é o ano com o segundo maior número de mortos por dengue na história do Brasil. Entre janeiro e setembro, o Ministério da Saúde registrou 61 mortes no País. No ano passado inteiro, foram 45.

O número de 2006 - ainda parcial - só não é maior que o de 2002, quando houve a pior epidemia de todos os tempos. Naquele ano, 150 pessoas morreram depois de terem sido picadas pelo mosquito Aedes aegypti. A maior parte das vítimas morava na cidade do Rio.

Nos nove primeiros meses deste ano, foram registrados cerca de 279 mil casos de pessoas doentes no País - contra aproximadamente 248 mil de todo o ano passado. Quase a metade (113,6 mil), neste ano, está concentrada na região Sudeste. O Estado com o maior número de casos é São Paulo (43,3 mil), mais especificamente as regiões de São José do Rio Preto e de Ribeirão Preto.

O foco maior foi o interior do Estado de São Paulo. Na comparação entre os nove primeiros meses de 2005 e o mesmo período de 2006, o aumento no número de doentes foi de quase 700% (de 5,5 mil para 43,3 mil). As regiões mais afetadas foram as de São José do Rio Preto e de Ribeirão Preto, cujos habitantes ainda não haviam tido contato com o sorotipo 3 do vírus da dengue.

É possível que o número de doentes em São José do Rio Preto seja ainda maior que o informado ao Ministério da Saúde. Em meados deste ano, o Instituto Adolfo Lutz, ligado ao governo do Estado, perdeu mais de 2 mil amostras de sangue de doentes com suspeita de dengue. O material foi perdido por causa de uma queda de energia no laboratório do Adolfo Lutz na cidade. Em setembro, a diretora do laboratório pediu demissão por causa da falha.

O Ceará foi o segundo Estado com o maior número de doentes, atrás de São Paulo. O Estado nordestino identificou cerca de 34,2 mil infectados, também pelo tipo 3 da dengue, a maioria deles na capital, Fortaleza. Logo em seguida, aparecem o Rio (29,3 mil casos), Goiás (26,8 mil) e Minas Gerais (26,6 mil).

DENGUE HEMORRÁGICA

Existem, no mundo, quatro sorotipos do vírus da dengue. No Brasil, foram registrados os tipos 1, 2 e 3. Quem se infecta uma vez fica imunizado e não corre o risco de voltar a contrair o mesmo sorotipo. No entanto, pode ser contagiado pelos outros tipos. Quando a pessoa contrai dengue pela segunda vez, a doença se manifesta de forma muito mais agressiva e o doente corre o risco de desenvolver a forma hemorrágica, que pode levar à morte.

No Brasil, somente Santa Catarina e o Rio Grande do Sul estão livres da dengue. Os poucos casos registrados nesses Estados - 400 até setembro - são 'importados'. As pessoas ficaram doentes em outras regiões do País.

Uma das preocupações das autoridades de saúde é que o tipo 4 pode chegar ao território nacional a qualquer momento. Países vizinhos, como a Venezuela, a Guiana Francesa e o Peru, já tiveram epidemias provocadas por esse sorotipo. Uma epidemia no Brasil seria inevitável, já que ninguém tem imunidade contra o tipo 4.

Ainda não existe vacina. Por isso, a melhor forma de combater a dengue é a prevenção: eliminando o mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti, e suas larvas. Isso se faz evitando o acúmulo de água parada, onde o inseto se reproduz. O período mais crítico vai de janeiro a maio, quando está mais quente e há mais chuvas.

DIA D

Neste ano, o Dia D de Combate à Dengue será o próximo dia 18. Sempre antes do início das chuvas, o Dia D é uma data escolhida pelo Ministério da Saúde para chamar a atenção da sociedade para o problema e incentivá-la a combater o mosquito. Também tem o objetivo de alertar os prefeitos, que recebem verbas específicas do Ministério da Saúde e são os responsáveis diretos pelo controle da doença.

'A dengue é uma doença com a qual vamos ter de conviver por um longo tempo', diz Nélio Moraes, supervisor, no governo do Ceará, do Núcleo de Controle de Endemias Transmissíveis por Vetores. 'Temos de fazer o possível para atravessar os próximos anos sem novas explosões de casos. Isso depende das ações das autoridades e da conscientização da população.'