Título: FMI alerta para excesso de gastos
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2006, Economia, p. B1

O Fundo Monetário Internacional (FMI) faz uma advertência contra o rápido crescimento de gastos dos governos da América Latina em seu relatório 'Panorama Econômico Regional', divulgado ontem. Segundo o fundo, a região vai manter o crescimento robusto dos últimos dois anos, apesar da alta das taxas de juros mundiais. O relatório prevê alta de 4,75% no PIB da América Latina em 2006 e 4,25% em 2007. Para o Brasil, a expectativa é de 3,2% neste ano e 4% no ano que vem.

Mas o FMI afirma que muitos países não têm aproveitado os anos de bonança para aumentar sua poupança, reduzir dívidas ou investir em infra-estrutura. 'Como a dívida pública continua alta e as recentes melhoras na posição fiscal se devem a fatores conjunturais, o aumento de gastos é muito preocupante', diz o documento. 'Na maioria dos países, há uma política fiscal expansionista em uma época em que o rápido crescimento oferece a oportunidade de reduzir o endividamento.'

Os gastos reais dos governos da América Latina cresceram 7,4% (média ponderada) em 2005 e devem crescer 7,3% em 2006. O crescimento de gastos foi especialmente alto em 2005 na Argentina (14,4%) e na Venezuela (22,9%), e ficou mais contido no Chile (5,9%), Colômbia (5,6%) e México (3,9%). No Brasil houve aumento real nos gastos do governo de 6,6% em 2005 e 5% em 2006.

Para o Fundo, o aumento de gastos é mais preocupante porque está prevista a redução dos preços das commodities, que vinham inflando a receita dos países da América Latina. 'Se as receitas de commodities voltarem para os níveis de 2004, isso pode resultar em redução de 2 pontos porcentuais do PIB nos superávits fiscais.'

Com exceção da aceleração de gastos, o FMI acha que os países lidaram melhor com essa fase de prosperidade global, na comparação com outros momentos positivos da economia mundial. 'Os países têm superávits em conta corrente e nos resultados primários do orçamento, as taxas de câmbio estão mais flexíveis, a inflação está bem menor e a estrutura da dívida pública é mais segura, com menor participação de títulos de curto prazo ou em moeda estrangeira.' Segundo o fundo, os países estão bem menos vulneráveis a uma piora repentina nas condições externas do que estavam nos anos 90.

O relatório faz a ressalva de que ainda há problemas importantes nos países, como a dívida pública, a rigidez orçamentária (com grande parte das receitas e despesas vinculadas) e o crescimento real do crédito.