Título: UE quer uma Bolívia 'responsável'
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2006, Economia, p. B5

Representantes da União Européia (UE) vão se reunir com o presidente da Bolívia, Evo Morales, neste fim de semana para cobrar de La Paz uma 'posição responsável' em relação aos investidores estrangeiros.

Durante a Cúpula Ibero-Americana, que ocorre em Montevidéu, capital do Uruguai, a comissária de Relações Exteriores da Europa, Benita Ferrero-Waldner, agendou uma conversa com Evo. 'A mensagem será clara: a Bolívia precisa recriar um clima de confiança com os investidores', afirmou um funcionário de alto escalão em Bruxelas que pediu para manter o anonimato.

Para os europeus, uma situação mais favorável e de estabilidade jurídica será essencial para que os bolivianos consigam atrair mais investimentos nos próximos anos.

'Sempre tivemos ótimas relações com a Bolívia. Mas ficamos inquietos com as medidas de nacionalização de alguns setores, como o de petróleo. Precisa haver um clima cômodo e seguro para os investidores', defendeu o negociador europeu.

Os interesses espanhóis são os principais afetados na Europa pelas medidas do presidente boliviano. Por meio da Argentina YPF, a empresa espanhola Repsol atua em 27% das reservas de gás da Bolívia, calculadas em 48,7 bilhões de pés cúbicos. Desde 1997, os investimentos espanhóis chegam a US$ 1,1 bilhão em uma área de cerca de sete mil quilômetros quadrados e a empresa garante ser um dos principais contribuintes fiscais ao país andino.

Segundo a Repsol, esse volume de recursos somaria US$ 1,2 bilhão em impostos e pagamento de royalties.

Mas não são apenas os espanhóis que querem que a União Européia defenda seus interesses. Benita Ferrero Waldner também teria instruções dos governos da Inglaterra, Bélgica e França para tratar do assunto da nacionalização do gás.

Empresas como a British Petroleum e a franco- belga Total-Elf também são investidoras na Bolívia.

'A base de uma relação com empresas estrangeiras deve ser o diálogo e essa é nossa posição em relação ao futuro do setor do petróleo na Bolívia', afirmou o funcionário europeu.

Os europeus ainda confirmaram que querem lançar no início de 2007 uma negociação com a Bolívia e os demais países andinos para formar uma área de livre comércio entre essas economias e a União Européia.

O processo, segundo Bruxelas, deve incluir não apenas a queda de tarifas para a importação de produtos, mas tocará em assuntos como investimentos.

Para diplomatas europeus, ficará evidente nas negociações que Bruxelas vai procurar estabelecer regras nos países andinos que dêem certas garantias para suas empresas na região. Em troca, aceitaria a redução de algumas de suas tarifas para bens exportados pela Bolívia e outros países da Comunidade Andina.

Evo viaja hoje para Montevidéu para participar da cúpula acompanhado do ministro das Relações Exteriores, David Choquehuanca, do chefe de Gabinete, Juan Ramón Quintana, e do porta-voz da presidência, Alex Contreras.

Além da comissária européia, Evo terá outras reuniões bilaterais, segundo informou a agência oficial boliviana. Entre elas com os presidentes da Colômbia, Álvaro Uribe, do Uruguai, Tabaré Vàzquez, e do Chile, Michelle Bachelet.