Título: Salários pressionam a inflação nos EUA
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2006, Economia, p. B5

A produtividade dos trabalhadores americanos se manteve inalterada no terceiro trimestre deste ano, para decepção dos economistas que tinham calculado um aumento de 1%. No mesmo período, houve um aumento do custo da mão-de-obra, segundo informou ontem o Departamento de Trabalho dos Estados Unidos.

O relatório, divulgado um dia antes da publicação do índice de desemprego em outubro, não deve agradar aos diretores do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que confiavam na estabilidade da inflação. Em sua reunião na semana passada, o Comitê de Mercado Aberto do Fed, que controla a política monetária dos EUA, manteve as taxas de juros inalteradas, prolongando pelo terceiro mês sua pausa nas correções para conter a inflação.

Antes disso, o Fed havia aumentado as taxas de juros por 17 vezes consecutivas, num esforço para desacelerar a economia e manter as pressões inflacionárias sob controle. Se a estagnação na produtividade e o aumento dos custos de mão-de-obra não forem revertidos nos próximos trimestres, o Fed pode ser obrigado a retomar o movimento de alta dos juros para combater a inflação.

A produtividade, que mede quanto cada empregado produz por hora de trabalho, ficou inalterada entre julho e setembro, após um aumento de 1,2% no segundo trimestre. O custo da mão-de-obra subiu 3,8% no período e aumentou 5,3% nos últimos 12 meses até setembro. Esta é a maior alta anual desde 1982.

Os poucos avanços da produtividade e o aumento do custo da mão-de-obra podem incentivar as companhias a aumentar seus preços para manter ou lucro, e isso acelerará a inflação. O custo da mão-de-obra representa quase dois terços do custo de produção de um bem ou serviço, e um aumento deste valor poderia se contrapor à queda recente dos preços de algumas matérias-primas.

A compensação dos trabalhadores por cada hora de trabalho subiu no terceiro trimestre a um ritmo anual de 3,7%, após um aumento de 6,6% no trimestre anterior.

Outro relatório do Departamento de Trabalho indicou que o número de pedidos de seguro-desemprego aumentou na semana passada em 18 mil, o maior em três meses, e chegou a 327 mil, o nível mais alto desde julho. Os economistas acreditam que isso mostra um enfraquecimento do mercado de trabalho.

O Departamento de Comércio divulgou um relatório mostrando que os pedidos para fábricas de produtos manufaturados aumentou 2,1% em setembro, o maior aumento em seis meses, mas praticamente toda a força veio de um aumento das encomendas de aviões comerciais. O departamento informou que os pedidos de bens duráveis subiram 8,3%, compensando uma queda de 4,6% na demanda por comida, gasolina e outros bens não-duráveis.

Esse índice, que foi revisado para cima de uma estimativa inicial da semana passada de 7,8% de aumento, reflete um avanço de 189,7% na demanda por aviões comerciais. Excluindo aviões e outros produtos de transporte, os pedidos às fábricas teriam caído 2,4%. A queda nos bens não-duráveis pode ser atribuída em parte aos preços baixos dos derivados de petróleo.

Ao mesmo tempo, relatórios dos maiores varejistas dos Estados Unidos indicam que os consumidores podem ter dado uma pausa em outubro, depois de terem se lançado em uma onda de compras em setembro. Mas os analistas dizem que quedas significativas nos preços da gasolina poderiam incentivar as vendas na temporada de fim de ano, fazendo com que os consumidores tenham mais para gastar em outros itens.