Título: Gabrielli acusa imprensa de campanha contra Petrobrás
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2006, Nacional, p. A5

O presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, disse ontem que a empresa é vítima de uma 'campanha orquestrada' por parte de órgãos da imprensa, que divulgaram nos últimos dias denúncias sobre suposto favorecimento de ONGs ligadas ao PT e de empresas que doaram recursos para campanhas petistas. Por duas ocasiões, Gabrielli fez críticas ao trabalho da imprensa e qualificou de 'irresponsáveis' as notícias.

Gabrielli é mais um integrante do governo a lançar mão de críticas à imprensa. O atual presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, que coordenou a campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a recomendar que os órgãos de imprensa fizessem uma 'auto-reflexão' sobre seu papel na campanha eleitoral. Garcia considerou que seu partido e o governo foram prejudicados pela cobertura jornalística. O próprio Lula referendou essa posição semana passada, na Venezuela.

'Liberdade de imprensa é valor fundamental, mas exige responsabilidade nas notícias que são dadas', disse Gabrielli, em entrevista coletiva convocada na tarde de ontem exclusivamente para comentar as denúncias. Segundo ele, foi uma entrevista 'não usual', porque trataria do trabalho da imprensa e não de fatos relacionados a negócios da estatal.

Dizendo-se revoltado, o executivo constrangeu um dos repórteres, afirmando que ele não é bem-vindo na empresa.

As notícias que irritaram o presidente da Petrobrás levantam suspeitas sobre doações da estatal que beneficiaram filiados ao PT, por meio de programas sociais. Além disso, sugerem que a estatal vem repassando recursos a campanhas petistas por empresas com as quais tem contratos. Gabrielli argumentou que a Petrobrás tem mais de 70 mil fornecedores e 1.751 projetos sociais em andamento e não tem gestão sobre interesses político-partidários de fornecedores ou ONGs beneficiadas.

'São 70 mil fornecedores. Selecioná-los por critérios éticos, étnicos, ideológicos, políticos ou quaisquer outros, é possível', afirmou. Mais cedo, em palestra para executivos do mercado financeiro, o presidente da Petrobrás já havia tratado do tema: 'Pode encontrar empresas que o dono tem um metro e vinte; empresas que o dono não gosta de futebol; que o dono é baiano, que o dono doou para o PFL. Vai encontrar de tudo. Pode procurar que acha', ironizou.

Gabrielli disse que a Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi), que tem um convênio de R$ 268 milhões com a estatal, não vai receber o dinheiro. 'Os recursos serão repassados diretamente para as instituições que vão treinar profissionais.' A Abemi, formada por empreiteiras que, segundo as denúncias, doaram recursos para petistas, foi convocada para organizar os cursos para qualificação de 70 mil profissionais nos próximos anos, explicou a empresa.

O presidente da Petrobrás afirmou ainda que os repasses para ONGs beneficiadas pelos programas sociais são feitos com base em análises técnicas. 'Não pedimos filiação partidária ou coloração político-ideológica.'