Título: É cedo para ligar Síria ao crime, afirmam analistas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2006, Internacional, p. A12

Ainda é cedo para ligar o assassinato do ministro libanês Pierre Gemayel à Síria, de acordo com especialistas. Timur Gokselo, professor da Universidade Americana de Beirute, no Líbano, explica que, apesar de Damasco ter interesse em desestabilizar o governo do premiê Fuad Siniora, autoridades sírias já estão sendo investigadas pela morte do ex-primeiro-ministro Rafic Hariri, em fevereiro de 2005, e este novo assassinato só iria complicar sua situação perante a comunidade internacional. 'Os dias da Síria dentro do Líbano acabaram', afirmou Gokselo em entrevista ao Estado.

O cientista político libanês Hilal Khashan concorda. 'Como a vítima é um político anti-Síria, a opção mais fácil seria acusar Damasco e seus aliados no Líbano, como o Hezbollah', diz Khashan. 'A verdade, porém, é que ainda não está claro quem ganha com esse crime - o Hezbollah, por exemplo, terá de desistir de fazer uma grande manifestação contra Siniora, como planejava, para não despertar a hostilidade da maior parte dos libaneses contra o grupo', completa.

Para o libanês Fawaz Gerges, professor de ciências políticas da Universidade Sarah Lawrence, em Nova York, ao menos algo está claro: 'Quem perde é o Líbano.' Apenas três meses após o fim da guerra dos 34 dias contra Israel, o assassinato de Gemayel ameaça aprofundar as divisões na sociedade libanesa e jogar o país em novo conflito.'O maior perigo, obviamente, é a guerra civil', diz Gerges. 'Infelizmente, esse desfecho não é improvável, mas também é possível que as lideranças dos grupos rivais cheguem a um acordo para evitar o pior', acrescenta.