Título: Ministro cristão libanês é assassinado
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/11/2006, Internacional, p. A12
O ministro da Indústria do Líbano, Pierre Gemayel, foi morto a tiros ontem, em Beirute, num momento em que o governo libanês vive uma grave crise política por causa da renúncia de seis ministros ligados ao grupo xiita Hezbollah e ao presidente Émile Lahud.
Gemayel, de 34 anos, era um destacado líder cristão e, ao contrário do Hezbollah e de Lahud, se opunha à influência da Síria no país. Segundo relato das testemunhas, o seu comboio foi atacado por ao menos três homens no bairro cristão de Jdeideh. Depois de fechar o carro do ministro com dois veículos, os homens desceram e dispararam mais de dez tiros com armas equipadas com silenciadores. Gemayel, ferido no pescoço, foi leva do a um hospital, mas não resistiu.
Pouco depois, outro ministro anti-Síria anunciou ter sido alvo de um ataque. Num comunica do, o escritório de Michel Pharaon, político cristão que está à frente da pasta dos Assuntos do Parlamento, foi alvejado por homens em uma Suzuki branca, horas antes do ataque a Gemayel. Pharaon escapou ileso.
Em protesto contra o assassinato, aliados de Gemayel saíram às ruas e queimaram carros de políticos da oposição pró-Síria. Centenas se reuniram em frente à sede de seu partido, a Falange. Com a atual escalada das tensões entre os grupos rivais no Líbano, o maior risco é que o crime leve a uma crise de grandes proporções, que pode envolver até outros países do Oriente Médio.
O filho do ex-premiê libanês Rafic Hariri, Saad, culpou Damasco pela morte de Gemayel, mas a Síria condenou o crime. O Hezbollah também negou qualquer envolvimento no atentado e, por meio do deputado Hassan Fadallah, pediu que não fossem feitas 'acusações precipitadas'.
A Síria manteve tropas no território libanês entre 1976 e 2005, quando foi obrigada a se retirar, sob intensa pressão da comunidade internacional e da população libanesa.
As suspeitas do envolvimento de autoridades sírias e seus aliados libaneses no assassinato de Hariri, em fevereiro de 2005, desataram uma série de protestos anti-Síria na capital libanesa - num movimento que ficou conhecido como Revolução dos Cedros e culminou com a ren úncia do antigo governo aliado de Damasco.
Gemayel fazia parte da coalizão anti-Síria que ganhou o controle do governo libanês depois desse episódio e indicou o atual premiê, Fuad Siniora. O grupo é apoiado pe lo Ocidente e reúne muçulmanos sunitas, drusos e a maior parte dos cristãos.
Com o fim da guerra dos 34 dias com Israel, em agosto, a disputa política en tre esta coalizão governista e os grupos pró-Síria - principalmente o Hezbollah e o movimento Amal, também xiita - voltou a ficar acirrada.
Nas últimas semanas, Siniora estava sendo pressionado pelo Hezbollah, que, fortalecido pela retirada israelense, queria aumentar sua participação no gabinete. O objetivo do grupo xiita era obter um terço dos 24 ministérios, o que lhes permitiria vetar decisões e até derrubar o governo de Siniora. A resistência do premiê foi o que levou os ministros aliados do Hezbollah a renunciarem.
As tensões aumentaram ainda mais na última terça-feira, quando o governo aprovou uma proposta da ONU para criar um tribunal internacional encarregado de julgar os responsáveis pelo assassinato de Hariri.
Contrariados, o Hezbollah e o presidente libanês acusaram o tribunal de ser ilegítimo, alegando que ele foi aprovado quando os ministros xiitas - que representam aproximadamente 30% da população libanesa - não faziam mais parte do governo.
No domingo, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, convocou uma manifestação para esta semana para derrubar o governo de Siniora, considerado por ele 'ilegítimo e inconstitucional'.