Título: PFL vê submissão de Lula a Evo
Autor: Denise Madueño, Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2006, Nacional, p. A17

A decisão do governo boliviano de expulsar fazendeiros brasileiros que ocupam terras supostamente de forma ilegal é vista pelo líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), como mais uma posição de submissão do Brasil ao país vizinho. Agripino avaliou que o viés ideológico na relação com a Bolívia levou o governo brasileiro a adotar uma atitude passiva, que está prejudicando a imagem do País no exterior.

Agripino citou a ocupação militar da refinaria da Petrobrás na Bolívia e, agora, o anúncio do vice-ministro de Terras, Alejandro Almaraz, de que o governo vai desalojar entre 30 e 40 fazendeiros brasileiros no território boliviano, próximo à fronteira - ele não descartou o uso do Exército, caso necessário.

'A postura de submissão do Brasil diante da truculência boliviana, diminuiu a estatura do Brasil no contexto internacional', afirmou Agripino. 'Assim como o Brasil teve a refinaria invadida, o País terá os seus patrícios expulsos', continuou. O líder pefelista ressaltou que o anúncio do governo boliviano foi feito após o segundo turno da eleição no Brasil, sugerindo a existência de um acordo entre os governos dos dois países para evitar a divulgação da medida em data que prejudicasse a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O senador Tião Viana (PT-AC) avaliou que não é de agora que as famílias brasileiras instaladas em terras da Bolívia se queixam de que estão sendo alvo de constrangimento pela presença de militares e paramilitares na área. Ele disse que, enquanto o governo daquele país tenta solucionar o impasse, abrindo prazo para que os fazendeiros desocupem terras tidas como ilegais, pessoas que se põem à frente da questão 'jogam pesado, agem de maneira embrutecida'.

Viana reconheceu o direito do governo boliviano de definir sua política agrária, de 'exigir a legalização dos ocupantes de suas terras e de ter cuidado com a área ambiental', atuando contra fazendeiros 'que agem de maneira inescrupulosas causando dano ao meio ambiente'. No entanto, frisou que 'enquanto temos 5 mil brasileiros ditos ilegais, a Bolívia tem 70 mil cidadãos vivendo de maneira irregular em São Paulo', referindo-se ao número de imigrantes identificado pela Polícia Federal.

Viana disse ainda que o governo do Acre, por ser fronteiriço à Bolívia, tem recorrido ao Itamaraty em busca de solução. 'Precisamos de diálogo e responsabilidade no tratamento desta questão.'

O deputado Doutor Rosinha (PT-PR), da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, defendeu uma negociação política para solucionar o impasse. Segundo ele, o governo Lula poderá intermediar a negociação entre o grupo de fazendeiros e o governo da Bolívia, caso solicitado pelos brasileiros que estão sob ameaça de expulsão. 'É uma relação entre o Estado e a propriedade privada. Não conheço as leis bolivianas, mas a negociação política existe sempre', afirmou.

De acordo com o petista, o presidente da Bolívia, Evo Morales, enfrenta uma conjuntura dramática. 'Ou ele cumpre o programa que prometeu ou corre o risco de ter os movimentos sociais, que já derrubaram dois governos anteriores, contra ele', avaliou. Rosinha considera que os movimentos sociais bolivianos são muito radicais, o que dificulta o diálogo com outros setores.