Título: Favorito, Chávez ameaça fechar TVs
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2006, Internacional, p. A25

Às vésperas da eleição, presidente venezuelano manda recado para os meios de comunicação e promete: `Fico até 2021¿

Às vésperas da votação de amanhã, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, voltou a ameaçar fechar jornais e emissoras de TV que ¿insistirem em trilhar o caminho do golpismo e da subversão¿. Em novembro, a Assembléia Nacional - dominada totalmente por deputados que apóiam o governo - aprovou a Lei de Responsabilidade Social dos Meios de Comunicação, que sanciona com penas de multa e prisão empresas e jornalistas condenados por delitos de injúria e difamação ou de ofensa à pessoa do presidente.

A advertência foi feita durante uma entrevista especial ao vivo, direto do Palácio de Miraflores, produzida pela emissora privada Venevisión. Indagado sobre se pensava em não renovar a concessão de alguns canais privados, Chávez respondeu: ¿Isso é perfeitamente possível. É perfeitamente possível que o país seja chamado a dar sua opinião sobre esse tema.¿ O presidente venezuelano também disse ter-se ¿arrependido¿ de não ter fechado as maiores emissoras particulares do país depois do frustrado golpe contra ele, em abril de 2002. Citou especificamente quatro emissoras: Globovisión, Venevisión, RCTV e Televen.

Curiosamente, quase todas as emissoras privadas optaram por transmitir a entrevista, por cortesia da Venevisión, da qual participavam também dois jornalistas de emissoras pró-governo, a estatal Venezolana de Televisión e a rede internacional Telesur. O programa - qualificado pela oposição de propaganda eleitoral - começou às 22 horas de quinta-feira (zero hora de ontem em Brasília) e se estendeu até depois da 1 da manhã de ontem. Deveria ter sido encerrado à meia-noite local, quando, por força de lei, as emissoras são obrigadas a executar o hino nacional. Mas Chávez concordou com a sugestão do âncora da Venevisión de prosseguir com a entrevista depois do hino. ¿Se tivermos um intervalo para tomar uma agüinha e comer uma empanada, pois estou com fome, não como nada desde a tarde, prosseguimos¿, concordou Chávez, bem-humorado.

¿O assédio aos meios de comunicação tende a se ampliar depois de uma provável vitória de Chávez na eleição de domingo¿, disse ao Estado o jornalista e escritor venezuelano Alberto Garrido. ¿O endurecimento do regime chavista é parte do plano de longo prazo do movimento cívico-militar que Chávez chama de revolução bolivariana. Chávez diz que, depois de eleito, começará uma nova etapa de seu governo. Essa será uma etapa de consolidação da revolução, com a limitação de garantias individuais, da liberdade de expressão e rumo ao regime de partido único e pensamento único¿, explica Garrido.

Durante a mesma entrevista, Chávez reiterou que ¿caso a oposição saia às ruas denunciando fraude ou convocando militares para um novo golpe¿, convocará, em seu primeiro decreto após a posse, um referendo para reformar a Constituição e remover o artigo que permite a reeleição do presidente uma única vez.

¿Fico até 2021. Seria minha resposta aos golpistas, meu contra-ataque político¿, voltou a ameaçar. O presidente venezuelano disse ainda que pretende estudar medidas punitivas para candidatos a cargos eleitorais que se retirem das disputas, como ocorreu em 2004, quando toda a oposição boicotou a votação para a Assembléia Nacional para protestar contra as regras eleitorais que qualificaram de injustas.

Horas antes de fazer as declarações na TV, Chávez havia participado de uma entrevista coletiva, na qual revelou que seus agentes de inteligência tinham desmantelado um plano para assassinar o principal candidato opositor, Manuel Rosales. Segundo um jornal de Caracas, o Diário 2001, seis oficiais da Força Aérea - ¿todos oficiais superiores¿, segundo a publicação - foram detidos por participar na suposta conspiração.

¿Chávez nem treme quando mente¿, reagiu Rosales, que disse nada saber sobre o plano de atentado contra ele e acusou o governo de espalhar o medo para evitar que seus eleitores compareçam às urnas. A campanha de Rosales tem denunciado o aumento da criminalidade no país - há 44 homicídios por dia na Venezuela, mais do dobro dos que se registravam em 2000. O analista Garrido dá sua tese para o aumento da violência comum. ¿As posições de comando da Guarda Nacional e da polícia, assim como os altos cargos das Forças Armadas, foram ocupadas por aliados políticos, de absoluta confiança de Chávez. Num governo que não se sentisse ameaçado pelos agentes do próprio Estado, esses cargos seriam ocupados por especialistas, por profissionais de segurança pública¿, disse.