Título: 'Chávez tenta intimidar oposição'
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2006, Internacional, p. A26
Teodoro Petkoff, ex-ministro do Planejamento da Venezuela
Para assessor de Rosales, presidente não se sente vencedor, por isso quer semear o medo para impulsionar abstenção
Caracas
O jornalista Teodoro Petkoff, assessor de campanha do opositor Manuel Rosales, foi guerrilheiro nos anos 60 e ministro de Planejamento no segundo governo de Rafael Caldera (1993-98). Petkoff, de 74 anos, recebeu o Estado em seu escritório de Caracas, de onde comanda o jornal Tal Cual.
Como o sr. vê o cenário de um possível governo de Rosales?
Seria um governo muito difícil, com toda a Assembléia Nacional contra ele (a oposição venezuelana boicotou as eleições legislativas do ano passado e deputados governistas ocupam hoje todas as 100 cadeiras da Casa). Seria preciso paciência, e habilidade. Mas toda vez que há uma mudança política dessa magnitude também se produzem alterações políticas no outro lado. Senão, não haveria como, derrotado Pinochet, a Concertação pudesse governar no Chile, por exemplo. Se não houvesse parte da direita que apoiava Pinochet disposta a buscar novos caminhos, não teria havido transição.
Essas mudanças se estenderiam aos grupos chavistas radicalizados e armados que estão nos morros que cercam Caracas?
Uma coisa é o chavista que vota em Chávez e o defende como opção democrática, e outra são os grupos armados do chavismo. Não sei se eles poderão ser controlados. Mas esse é um problema de ordem pública. Agora, se Chávez, por exemplo, reconhecer uma derrota, os chavistas permanecerão mais tranqüilos.
Apesar de as pesquisas demonstrarem o favoritismo de Chávez, o sr. crê numa virada de Rosales?
Não acredito nas pesquisas e espero que ganhe Rosales. Há grandes chances de que isso aconteça, sobretudo quando se analisa o comportamento do governo nas últimas horas. Chávez não tem se comportado como alguém que se sente vencedor: confisca material de campanha da oposição, ataca grupos rivais, revela um complô contra a vida de Rosales - pura campanha intimidatória.
Por que então o governo tem de recorrer a atemorizar a população?
Estão criando um ambiente para impulsionar a abstenção e fazer com que os eleitores de Rosales não saiam para votar.
Caso Chávez vença, o sr. crê que Rosales possa ser o líder capaz de catalisar as forças de oposição?
Creio que sim. Se em quatro meses ele foi capaz de tirar do nada uma oposição que estava desmoralizada, fragmentada e resignada, é preciso reconhecer que seu trabalho foi melhor do que o de Chávez.
O sr. foi apontado como candidato da oposição. Rosales era mesmo o melhor para enfrentar Chávez?
Sim. Eu teria muito mais problemas com a direita, e precisamos dos votos deles. Diriam que estávamos tratando de trocar o comunista Chávez pelo comunista Petkoff. Rosales nunca pertenceu ao Partido Comunista ou se envolveu com a guerrilha, como eu. Ele foi uma espécie de social-democrata tropical.
Como o sr. vê a onda de governos de esquerda na América Latina?
Vejo com esperança. É um erro acreditar que eles correspondam ao chavismo. Há a esquerda que caminha para o centro, como a chilena ou a brasileira, e a não-democrática, atrasada, medieval, stalinista - que ainda aguarda a confirmação da queda do Muro de Berlim -, da qual Chávez e Fidel Castro são emblemas.
Como o sr. descreveria Chávez?
Ele é pouco formal, mas muito inteligente. No início, estava sinceramente preocupado com os pobres. É um demagogo e manipulador. Ideologicamente, não faço idéia de quem seja. Ora tem uma conduta de esquerda - programas sociais, etc. -, ora de um fascista: grupos armados, incitação à violência, culto à personalidade.
O sr. acredita que o golpe fracassado de 2002 contra Chávez fortaleceu seu governo?
Com certeza. Isso o vitimizou e o fortaleceu, como ocorreu quando militares rebeldes acamparam na Praça de Altamira ou durante a greve no setor petrolífero. Foram erros gravíssimos de uma oposição movida apenas pela conquista dos privilégios do poder. Mas a oposição aprendeu e agora pode, caso derrotada, ao menos se apresentar como uma alternativa política real.