Título: Na reta final, tensão aumenta em Caracas
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/12/2006, Internacional, p. A26

Milhares de pessoas se reuniram quinta-feira à noite na Praça França, em Altamira, em resposta à convocação do candidato da oposição venezuelana, Manuel Rosales. Ele tinha pedido a seus partidários que soprassem apitos, tocassem buzinas e estourassem fogos de artifício às 22 horas em ponto (zero hora de ontem, em Brasília). O objetivo do ¿apitaço¿, segundo Rosales, era fazer com que todos os habitantes de Caracas e das demais grandes cidades do país sentissem a força da oposição - em resposta às pesquisas que dão vantagem para o presidente e candidato à reeleição, Hugo Chávez.

Na hora marcada, o barulho ensurdecedor dos apitos tomou conta da praça, assim como o ruído da explosão dos fogos. ¿Estamos todos prontos para pôr fim à ditadura de Chávez¿, disse o bancário Ernán Pereira, de 27 anos, vestido de azul e amarelo, as cores da campanha da oposição. ¿Domingo, se não houver uma `trampa¿ (fraude), ele (Chávez) terá uma surpresa.¿

Quase ao mesmo tempo, em Petare, subúrbio de classe média baixa de Caracas, grupos de chavistas e da oposição se enfrentaram numa praça. Os oposicionistas distribuíam material de campanha de Rosales, quando foram cercados por jovens chavistas, que estavam em maioria. Os partidários de Rosales conseguiram romper o cerco e se refugiaram na igreja da praça, de onde foram resgatados por policiais. Apesar da tensão, ninguém ficou ferido.

Cerca de 130 mil soldados da polícia e da Guarda Nacional foram mobilizados em todo o país para reforçar a segurança durante a eleição e a apuração de amanhã. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proibiu a divulgação de projeções ou pesquisas de boca-de-urna antes da difusão de seu primeiro boletim oficial. A previsão é a de que esse resultado preliminar não seja divulgado antes da 21 horas (23 horas de Brasília), cinco horas depois do encerramento da votação.

Fiscais da oposição e do governo já anteciparam que se concentrarão na frente do CNE, no centro de Caracas, enquanto os votos são computados no interior do edifício. A Justiça venezuelana emitiu ontem um parecer esclarecendo que a concentração de pessoas - desde que pacífica e sem a manifestação de preferências eleitorais - não viola a legislação. Mas teme-se que a tensão causada pela presença ao mesmo tempo, no mesmo local, dos dois grupos políticos adversários possa provocar confrontos.