Título: Aceleração ainda não ameaça meta para 2007
Autor: De Chiara, Márcia.
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2006, Economia, p. B6

Economistas consideram que a pressão dos alimentos é um ruído no cenário da inflação para 2007. Mas, ao menos por enquanto, ela não compromete a meta de 4,5% traçada para 2007 e não exige mudanças na política monetária de redução de juros básicos da economia.

'A alta de preços dos produtos agrícolas é localizada e o Banco Central não precisa penalizar a economia como um todo', afirma o diretor da RC Consultores, Fábio Silveira.

Essa avaliação é compartilhada pelo coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros. 'A queda nos preços dos bens duráveis e nos artigos de vestuário devem atenuar a pressão dos alimentos', prevê o economista. Ele destaca que o grande volume de itens importados que está entrando hoje na economia brasileira contribui para conter possíveis aumentos de preços.

Silveira lembra que o governo tem outras cartas na manga para compensar a alta dos alimentos nos índices de inflação sem interromper a trajetória de queda dos juros ou diminuir o ritmo dos cortes. Com o recuo da cotação do petróleo, uma das alternativas é reduzir o preço da gasolina no mercado doméstico que hoje está acima da cotação externa. Outra saída é ampliar ainda mais a mistura do álcool na gasolina, como já vem sendo feita pelo governo. 'Hoje está sobrando álcool combustível', lembra Quadros, argumentando que, em alguns momentos, cogitou-se que o produto poderia pressionar a inflação a médio prazo.

Já o economista-chefe da Concórdia Corretora de Valores, Elson Teles, considera que a alta dos preços dos produtos agrícolas no atacado pode fazer com que o Banco Central reduza o ritmo de corte da taxa básica de juros, a Selic, na última reunião deste ano. 'Para justificar um novo corte de 0,50 ponto porcentual na Selic, o cenário de melhora da inflação teria de estar mantido. Isso agora não tem mais', diz Teles.

Ele acrescenta que há outros fatores que podem contribuir para sancionar os aumentos de preços. Entre eles, a entrada de mais recursos no fim de ano, por conta do pagamento do 13 º salário. Há também o reajuste dos transportes. 'O BC deve agir com mais cautela.'