Título: Apoio técnico aos pequenos está atrasado, diz Embrapa
Autor: Brito, Agnaldo.
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2006, Economia, p. B7

A disposição dos agricultores familiares do País em ocupar o espaço criado pelo governo no Programa Nacional do Biodiesel corre o risco de ser frustrada. Os financiamentos para plantio existem, mas apenas para culturas pesquisadas e testadas, como o dendê, no Norte e a mamona, no Nordeste. Os bancos não querem bancar safras de matéria-prima cujo potencial ainda é desconhecido, como o pinhão manso.

Assim, obrigar o recém-nascido parque produtor de biodiesel a comprar porcentagens da matéria-prima do pequeno lavrador do interior do Brasil já se constitui no maior problema para a indústria processadora de óleo. 'Não é tarefa fácil organizar e atrelar uma legião de pequenos produtores a uma cadeia de suprimento, quando há escassez de tudo', diz Sílvio Rangel, gerente da divisão de Biodiesel da Barralcool.

O desafio brasileiro não é pequeno na organização da cadeia produtiva do biodiesel, principalmente diante do desafio de não permitir que esse novo negócio vire o que é hoje a cadeia sucroalcooleira, de sucesso inegável, mas que exclui por completo a pequena propriedade rural.

A agricultura familiar carece neste momento de suporte técnico, de uma estrutura capaz de transferir com eficácia a tecnologia genética e de técnicas de plantio e manejo para todos os cantos do País. 'Estamos muito aquém disso', admite José Roberto Rodrigues Peres, gerente-geral da Embrapa Transferência de Tecnologia. Peres representa a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no comitê gestor do programa de biodiesel.

A própria Embrapa ainda monta o Centro Nacional de Agroenergia e articula com as unidades espalhadas pelo País, voltadas à pesquisa de oleaginosas - soja, dendê e mamona, entre outras - a incluir no foco de investigações os potenciais de cada matéria-prima. A pesquisa ou a extensão rural (braço técnico responsável por levar à pequena propriedade os avanços tecnológicos da ciência agrícola) ainda estão aquém da demanda.

Situação que, segundo Peres, leva ao atropelo. É o caso da região do Alto Paraguai, em Mato Grosso, que elegeu por conta e risco uma matéria-prima. 'Não há pesquisa suficiente sobre pinhão manso no Brasil. Pode dar certo, mas pode dar errado', avisa.