Título: 'Demanda no Brasil cresce como na China'
Autor: Caminoto, João.
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/11/2006, Economia, p. B13

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, que está em Melbourne, Austrália, para a reunião de finanças do grupo dos 20 países mais ricos (G-20), disse ontem, em entrevista ao Estado, que o debate sobre o crescimento econômico no Brasil não deveria se concentrar na política monetária - que, segundo ele, tem propiciado um 'crescimento chinês' na demanda - e sim no fortalecimento da oferta.

'O debate sobre o ritmo de atividade tem sido marcado por equívoco importante, pois se fala muito que uma mudança nas taxas de juros poderia levar a uma reação no crescimento', afirmou. 'O que não está sendo verificado nessa discussão é que a política monetária influencia a demanda agregada e a renda, que estão reagindo bem.'

Como exemplo, Meirelles citou as vendas no varejo no mês de setembro, que cresceram 2,06% em relação a agosto e 10,1% ante setembro do ano passado. 'Isso é um crescimento chinês', disse ele.

Segundo Meirelles, parte desse aumento no consumo está sendo suprido pelos produtos importados. 'Portanto, o que temos de trabalhar é nos mecanismos para aumentar a produção e não ficarmos preocupados com a demanda e a política monetária', afirmou.

'Por isso, o governo está discutindo o aumento nos investimentos em infra-estrutura, a desoneração tributária, o fortalecimento do marco regulatório, entre outras medidas.'

Ele disse que a possível adoção de um regime de metas pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) tornaria o sistema daquele país mais transparente e alvo de 'menos confusão' no exterior.

METAS DO FED

'Muita gente no Brasil fala que o Fed não tem apenas metas de inflação, mas outros objetivos, como de crescimento econômico, de aumento de empregos. É difícil explicar que não é bem assim', considerou.

'De fato, a lei americana cita esses objetivos, mas o Fed e também o Congresso americano, têm uma interpretação da lei de que a melhor maneira para atingir os objetivos de mais produção e emprego é manter a inflação na meta', observou.

Como a posição do Fed não é formal, Meirelles permite uma interpretação livre em várias partes do mundo. 'Se os Estados Unidos adotarem formalmente o sistema de metas de inflação, isso terá um efeito didático importante', disse.

Após o encerramento hoje da reunião do G-20, que reúne os ministros de Economia e presidentes de bancos centrais dos 20 países mais ricos, incluindo o Brasil, Meirelles vai a Sidney, onde participará amanhã da reunião bimestral do Banco de Compensações Internacionais (BIS).