Título: PT diz hoje a Lula que não aceita papel secundário
Autor: Rosa, Vera.
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2006, Nacional, p. A4

A cúpula do PT deve aprovar hoje resolução em que condena a 'despetização' da Esplanada e defende a formação de um núcleo político de esquerda com o PSB e o PC do B para atuar no governo de coalizão proposto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o segundo mandato. A proposta será votada na reunião do Diretório Nacional, que começa hoje, em São Paulo, com a presença de Lula. Integrantes da cúpula petista negam que a intenção seja isolar o PMDB, mas, na prática, o PT pretende disputar a hegemonia da coalizão e não aceita ser tratado como derrotado.

A proposta de resolução passou pelo crivo do Palácio do Planalto e não contém tom de confronto. Ao contrário, é bastante amena. Para esfriar a polêmica em torno de cargos, o roteiro foi acertado com auxiliares de Lula: o PT diz estar disposto a contribuir 'decisivamente' e 'compartilhar responsabilidades' no governo de coalizão reunindo 'as forças que construíram o caminho da vitória e todos aqueles que estejam de acordo com o programa de transformações econômicas, sociais e políticas defendido durante a campanha'. Assinala, ainda, que a parceria com PSB e PC do B tem o objetivo de garantir 'ação mais coordenada' da frente de esquerda que apóia o governo.

Trecho do texto preliminar afirma que Lula 'repartirá de forma equânime e equilibrada as responsabilidades ministeriais e da condução política e administrativa da República'. Na avaliação dos petistas, está em curso uma tentativa 'patrocinada por setores da oposição política e da direita econômica' de influir na composição do governo e desmoralizar o PT.

'Levantam de forma insidiosa a tese de 'despetização' do governo, atribuindo ao partido um suposto 'aparelhamento' do Estado durante o primeiro mandato, tese que não encontra apoio na realidade', diz o documento.

Desde que conversou com a comissão política do PT, no dia 16, Lula se preparou para desarmar a inquietação petista sobre seu espaço no ministério. Na ocasião, o presidente foi informado de que o PT não aceitaria ser tratado como 'derrotado' em nome da coalizão. A partir daí, começou a ser alinhavado o acordo para uma resolução política mais branda. Longe dos holofotes, ministros de Lula já combinaram com a Executiva petista encontros reservados, a partir de segunda-feira, para discutir métodos de composição de governo e áreas de interesse do PT.

Lula abrirá hoje a reunião do Diretório Nacional do partido com pronunciamento sob medida para esfriar a polêmica. Na primeira reunião ampliada da cúpula do PT após a eleição, o presidente falará sobre as diretrizes do segundo mandato e tentará elevar a auto-estima dos petistas, dizendo que o partido sai vitorioso. O argumento contra a 'despetização' é de que o PT reelegeu o presidente, foi a legenda mais votada para a Câmara e conquistou cinco governos (Bahia, Sergipe, Acre, Piauí e Pará).

'O PT precisa ter clareza política para entender que coalizão significa compartilhar: o presidente lidera, dá a linha, mas os ministérios têm de ser compartilhados com os aliados', disse o governador eleito de Sergipe, Marcelo Déda. 'Mas o partido não é instituição filantrópica: não pode abrir mão de disputar seu espaço e respeitar seu peso de partido do presidente.'

SEM PICUINHAS

Dois dias depois de indicar que vai montar o ministério com menos amigos e mais técnicos, Lula procurará conduzir o debate para questões que passem ao largo de picuinhas e embates por cargos. Nos bastidores, porém, há disputas em andamento e o PT não admite que o PMDB seja considerado 'parceiro preferencial' de Lula. 'O governo é de centro-esquerda, mas a esquerda vai disputar a hegemonia com o centro. Isso é legítimo', afirmou o deputado federal eleito Jilmar Tatto, terceiro-vice-presidente do PT. 'Queremos opinar na política econômica, em áreas sociais como educação e saúde e também em comunicação.'

Além dessa disputa, existe luta interna entre as correntes petistas. A facção Movimento PT, por exemplo, não aceita que a Articulação/Unidade na Luta fique com a maior fatia de cargos. Atualmente, o PT comanda 15 dos 34 ministérios. Deste total, a Articulação - tendência de Lula - detém 13. O Desenvolvimento Agrário é controlado pela Democracia Socialista e a Secretaria da Pesca, pela Articulação de Esquerda.

Apesar dos afagos na direção do PC do B, os petistas não querem que o comunista Aldo Rebelo (SP) seja reconduzido à presidência da Câmara e defendem a candidatura do líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Nesse ponto, prometem enfrentar Lula, que autorizou articulação para reeleger Aldo.