Título: Novadata, de Mauro Dutra, pede recuperação judicial
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2006, Nacional, p. A7

Um ano depois de passar pela investigação a que foi submetida na CPI dos Correios, a empresa Novadata, de Mauro Dutra, entrou no dia 16 passado, na Justiça de Ilhéus (BA), com um pedido de reescalonamento de suas dívidas. O pedido foi feito com base na lei de recuperação judicial e extrajudicial de empresas e de falências (Lei 11.101/05). Em nota distribuída à imprensa e em entrevista ao Estado, Dutra se disse 'vítima de um jogo político, envolvendo a CPI dos Correios'. Segundo o empresário, depois de uma 'devassa meticulosa, a CPI não gerou nenhuma ação contra a empresa nem indiciamento de qualquer um dos seus diretores'.

A Novadata foi investigada no ano passado sob suspeita de superfaturamento de um contrato de fornecimento de computadores à Empresa Brasileira de Correios (ECT). O ex-diretor da ECT Maurício Marinho disse à CPI que o contrato havia embutido um superfaturamento de 30%. Como Dutra é amigo do presidente Lula - a quem recepcionou no réveillon de 2001, na casa que tem em Búzios (RJ) -, a oposição levantou a hipótese de que o contrato da ECT com a Novadata seria mais uma das compras públicas do governo Lula que permitiriam aos partidos aliados cobrar propinas para alimentar o mensalão.

'Comecei dizendo à CPI e repito, hoje: o contrato de fornecimento de computadores aos Correios foi fechado no governo FHC. Não tinha nada a ver com o governo Lula. E ninguém provou superfaturamento algum', afirmou o empresário.

A Justiça de Ilhéus acolheu o pedido da Novadata, mas foi solicitado a Dutra, como manda a lei, que ele apresente no prazo de dois meses um plano para sanear financeiramente a empresa. A Novadata está há 27 anos no mercado e viu o faturamento cair, depois da investigação na comissão parlamentar de inquérito, de R$ 337 milhões, em 2004, 'para menos da metade disso até o final deste ano' - cerca de R$ 160 milhões. 'Sempre fomos uma empresa saudável, mas não é fácil resistir a tanto tempo de exposição negativa na mídia', queixa-se Dutra.

Tradicional fabricante nacional de computadores, com fábrica instalada em Ilhéus, Dutra disse que a empresa não terá dificuldade em convencer a Justiça da viabilidade do saneamento. 'Temos uma boa carteira de encomendas e o mercado de informática está aquecido. Só precisamos reduzir drasticamente o montante do faturamento que é destinado ao pagamento de juros bancários', afirmou o empresário. Na nota distribuída, ele diz que 'o passivo está concentrado em dívidas bancárias' por causa dos empréstimos tomados nos últimos dois anos, 'após a crise de imagem sofrida a partir de denúncias injustificadas e, por isso mesmo, jamais comprovadas'. Dutra disse ao Estado que as denúncias provocaram 'descontinuidade nos negócios, atrasos nos pagamentos dos créditos a receber e cancelamento de pedidos'. Afirmou ainda que a empresa 'praticamente, não tem dívidas fiscais e as dívidas trabalhistas representam menos de 2% do passivo'.

ÁGORA

Embora a Novadata não tenha sofrido nenhuma ação judicial decorrente da CPI dos Correios, o Ministério Público do DF continua a investigar a Ágora, uma ONG fundada por Dutra e por empresários amigos que, em 2004, foi flagrada usando notas fiscais frias em prestação de contas de recursos públicos. A Ágora recebeu dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para promover cursos de qualificação dos trabalhadores.