Título: 'A polícia não pode ser leviana', reage delegada
Autor: Macedo, Fausto.
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2006, Nacional, p. A7

A delegada Elizabete Sato, que não viu crime político no caso Celso Daniel - prefeito do PT de Santo André executado em janeiro de 2002 -, reagiu ontem às acusações de que não teria cumprido a maior parte da investigação requerida pelo Ministério Público. 'Cumprimos todas as diligências, uma a uma. Não conseguimos provas de que o crime teve conotação política', declarou a delegada, titular do 78º Distrito Policial e responsável pelo segundo inquérito sobre a morte de Celso Daniel.

'A polícia não pode ser leviana', prosseguiu Elizabete. 'Temos que ter provas para imputar crime a alguém. Se a polícia não tem prova não pode dizer nada. Não conseguimos, nessa segunda fase da investigação, demonstrar se foi crime político.'

Para os promotores de Santo André que investigam o caso, Celso Daniel foi eliminado porque teria decidido dar um fim a suposto esquema de corrupção e propinas que teria tomado o controle de setores da administração municipal.

'Uma coisa é a corrupção, outra é afirmar que houve crime político', anotou a delegada. 'Para fazer qualquer afirmação tenho que ter convicção e elementos convincentes. Se eu imputar crime a alguém sem embasamento em provas quem vai ser processada sou eu.'

Elizabete considera ter sofrido injustiça diante das críticas que tem recebido dos promotores que atuam na unidade do Ministério Público que se dedica ao combate ao crime organizado.

Eles ficaram irritados com o relatório que a delegada enviou à Justiça. Nesse documento, ela afirmou: 'Alguns testemunhos até trouxeram uma suspeita aqui ou acolá sobre eventual crime político, todavia, suspeita sem a devida prova equivale a quase nada.'

'Se alguma diligência deixou de ser cumprida foi em comum acordo da promotoria', disse Elizabete Sato. Ela citou o caso de José Márcio Felício, o Geleião, integrante do PCC, facção criminosa que domina os presídios de São Paulo. 'Os promotores pediram para tomar o depoimento do Geleião, mas quando fizemos o pedido de autorização à Justiça fomos informados de que o preso estava em Mato Grosso sendo julgado por homicídio. Depois a CPI e os promotores decidiram que não iriam mais ouvir o Geleião. A CPI desprezou, os promotores concordaram.'

Os promotores também ficaram indignados com a delegada por causa de um outro trecho de seu relatório: 'A voracidade do Gaerco de Santo André sucumbiu diante da não demonstração de outras provas.'

' Eu quis dizer que apesar da vontade, da persistência e do empenho dos promotores durante todos esses anos não foi possível esclarecer', disse Elizabete.

Ela afirmou que não desconsiderou relatório de um de seus investigadores para quebra do sigilo de 33 linhas telefônicas. 'Mandei o pedido à Justiça.' Elizabete explicou por que não ouviu o empresário Sérgio Gomes, apontado pelo MP como mandante do crime. 'Ele está sub judice, já é réu na ação penal sobre o assassinato, é óbvio que iria ratificar suas declarações anteriores.'

A delegada lembrou que o inquérito não está encerrado. 'Fiz um relatório parcial. Sempre foi assim. Não existe essa história de delegado arquivar inquérito. Delegado não arquiva nada. Quem arquiva é juiz. Se o juiz mandar o inquérito de volta eu continuo a investigação.'