Título: Aids: OMS cobra decisão do Vaticano
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/11/2006, Vida&, p. A41

O diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS) para HIV/aids, Kevin De Cock, pediu que a Igreja Católica decida rápido se autoriza o uso limitado de preservativos em países fortemente atingidos pela doença.

Nesta semana, o chefe do departamento papal responsável por questões de saúde, o cardeal mexicano Javier Lozano Barragán, informou que a Igreja deve publicar um documento sobre o uso de preservativos por pessoas que sofrem de doenças graves, como a aids.

De Cock reuniu-se com Barragán, que compilou um relatório de 200 páginas contendo opiniões da Igreja, entregue ao papa e à Congregação para a Doutrina da Fé. Especula que o relatório vá recomendar a permissão do uso de preservativos em países onde a aids é amplamente disseminada por casais unidos pelo matrimônio nos quais um parceiro está infectado, como algumas nações africanas.

'Nossa preocupação é que essas profundas decisões teológicas levem em conta as conseqüências biológicas da infecção. Pedimos por favor que esse debate seja acelerado, pois vidas estão em perigo e o tempo é curto', disse o diretor da OMS.

DECISÃO HISTÓRICA

A eventual admissão de um método contraceptivo, ainda que repleta de condições e especificamente para a prevenção da aids, representará uma decisão histórica. A Igreja condena todas as formas de anticoncepção mecânica ou química, desde o preservativo até a pílula. Aceita só a 'paternidade responsável' como forma de regular os nascimentos - a abstenção das relações conjugais nos períodos férteis da mulher.

'A medida não atenderá às preocupações de todos. Mas o fato de eles estarem fazendo isso é muito significativo', disse De Cock. Na África, organizações religiosas são responsáveis por 40% a 50% dos cuidados prestados aos doentes.

O cardeal mexicano anunciou que a Igreja estuda a questão dois dias após o cardeal emérito de Milão, Carlo Maria Martini, ter dito em uma entrevista à imprensa italiana que, na luta contra a aids, o uso do preservativo pode ser, 'em algumas ocasiões, o menor mal'. Martini se referia aos casamentos nos quais um dos cônjuges é portador do vírus da aids.

O cardeal Martini, de 79 anos e vivendo atualmente em Jerusalém, foi líder destacado da ala progressista da Igreja Católica. Um de seus maiores rivais sempre foi o cardeal Joseph Ratzinger - atual papa Bento XVI. Justamente quem agora encomendou o estudo sobre preservativos.