Título: Câmara resiste a demitir assessores
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/08/2006, Nacional, p. A7

A direção da Câmara dos Deputados vai manter intocada a farra dos Cargos de Natureza Especial (CNEs). Um assessor da Mesa Diretora disse ao Estado, ontem à noite, que a intenção é "deixar esta legislatura acabar, em dezembro próximo, e ver o que pode ser feito a partir de março de 2007, quando a nova Câmara começa efetivamente a trabalhar". O assessor também disse que a presidência da Casa só vai tratar do assunto neste ano se for provocada pelo Ministério Público Federal.

Reportagem publicada na edição de ontem do Correio Braziliense mostrou que um grupo formado por 173 deputados e ex-deputados - 22 deles abandonaram o cargo sob acusação de envolvimento com a máfia dos sanguessugas - empregam na categoria de Cargo de Natureza Especial pelo menos 600 "afilhados" políticos. São, geralmente, parentes e cabos eleitorais lotados nas bases dos deputados.

Ao todo, apurou o Estado, há 2.930 desses cargos distribuídos pelos 513 deputados da Casa. Criados para contratar especialistas que qualificassem as assessorias técnicas dos parlamentares, os CNEs transformaram-se no grande cabide de empregos da Câmara e custam cerca de R$ 100 milhões por ano aos cofres públicos. Os salários variam de R$ 2 mil a R$ 9 mil.

A lista a que teve acesso o Correio revela que o deputado Inocêncio Oliveira (PL-PE), primeiro-secretário da Câmara, é "padrinho" de pelo menos 55 empregados em CNEs. O deputado Ciro Nogueira (PP-PI), segundo-vice-presidente e corregedor da Casa, tem ao menos 39 apadrinhados. Nilton Capixaba (PTB-RO) empregou 31; João Caldas (PL-AL), 15 - os dois fazem parte da Mesa Diretora da Câmara e foram denunciados pela CPI dos Sanguessugas.

Há deputados que costumam trocar funcionários de carreira do Legislativo por CNEs porque a legislação interna permite que eles dividam o salário de um cargo especial por quatro "apadrinhados" - uma farra dentro da farra.

NÚMEROS 2.930 é o total de cargos de confiança para dar assessoria técnica a parlamentares na Câmara

R$ 9 mil é o salário máximo dos cargos

R$ 100 milhões são gastos anualmente pela Casa com vencimentos dos CNEs