Título: CPI dos Sanguessugas convoca 8 do PT para explicar dossiê Vedoin
Autor: Lopes, Eugenia
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2006, Nacional, p. A4

O governo sofreu ontem uma série de derrotas na CPI dos Sanguessugas. Durante sessão tumultuada, a oposição conseguiu aprovar a convocação para depor de oito petistas envolvidos no escândalo do dossiê Vedoin, que visava a apresentar candidatos tucanos como envolvidos com a máfia dos sanguessugas. A comissão também decidiu quebrar o sigilo bancário e o fiscal de Freud Godoy, ex-assessor direto do presidente Lula. E convocou outro dirigente petista, apontado como envolvido com a máfia dos sanguessugas.

Cinco dos convocados a depor na CPI deixaram o comitê da campanha de Lula por causa do escândalo do dossiê. O nome mais importante é o do deputado Ricardo Berzoini (SP), que se licenciou da presidência do PT e se afastou da coordenação da campanha depois de revelada sua participação no caso. A maior parte dos demais integrava núcleo petista dedicado a espionagem: Gedimar Passos, Expedito Veloso, Oswaldo Bargas e Jorge Lorenzetti.

Também foram chamados outros três envolvidos com o dossiê: o próprio Freud, Valdebran Padilha, que foi tesoureiro de campanhas petistas anteriores em Mato Grosso, e Hamilton Lacerda, que coordenava a campanha de Aloizio Mercadante ao governo paulista.

Por enquanto, estão marcados apenas os depoimentos de Lorenzetti, Gedimar e Valdebran, todos para o dia 31 - dois dias após o segundo turno.

A comissão aprovou também a convocação do dirigente do PT Francisco Rocha da Silva, o Rochinha, que é amigo do presidente Lula e chefe de gabinete de Berzoini na Câmara. Rochinha foi apontado por Luiz Antonio Vedoin, sócio da empresa que chefiava a máfia dos sanguessugas, como o elo entre o Ministério da Saúde e a Casa Civil - que cuidava da liberação de emendas usadas para compra de ambulâncias superfaturadas. Ele foi também assessor especial do então ministro Humberto Costa na Saúde.

A oposição obteve tantas vitórias graças à falta de articulação dos governistas, que acabaram surpreendidos com o elevado número de parlamentares na reunião da CPI. O placar das duas principais decisões foi esmagador. A quebra de sigilos de Freud foi aprovada por 19 votos a favor e 4 contra; a convocação de Berzoini, por 20 a 3. Os demais requerimentos foram aprovados em votação simbólica, sem contagem de votos.

Os governistas ainda tentaram votar o requerimento de convocação do empresário Abel Pereira, apontado como intermediário entre o ex-ministro Barjas Negri e o esquema criminoso. Mas começou uma sessão do Senado, que interrompe os trabalhos da CPI, e não houve tempo para votar. 'Poderia ter havido mais objetividade, mas por questão de procedimento e falta de organização deixamos de aprovar a convocação do Abel', disse o deputado Paulo Santiago (PT-PE).

BATE-BOCAS

Nas cerca de duas horas de reunião, o tom de disputa política predominou, com bate-boca entre governistas e opositores. Na tentativa de acalmar os ânimos, o presidente da CPI, deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), suspendeu a sessão por 10 minutos. Não adiantou. O clima de guerra atingiu o ápice na discussão sobre os sigilos de Freud - cujo sigilo telefônico já fora aberto pela Justiça.

'Não há embasamento legal para esse pedido de quebra', reclamou a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC). 'A senhora não vai ganhar no grito', reagiu o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA). Ontem, o pefelista levou a melhor.