Título: Aliados afinam discurso contra 'tentativa golpista' do PSDB
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2006, Nacional, p. A7

Foi mais um lance da mesma batalha. Em reunião realizada ontem no comitê do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dirigentes do PT, PC do B, PSB e PMDB decidiram atacar com mais veemência o que chamaram de 'tentativa golpista' da oposição. A estratégia aprovada recomenda que deputados e senadores dos quatro partidos fiquem de prontidão no Congresso para defender Lula e que militantes saiam às ruas imbuídos do mesmo objetivo.

Os aliados também prometem fazer uma visita ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nos próximos dias, em resposta à atitude dos presidentes do PSDB, Tasso Jereissati, do PFL, Jorge Bornhausen, e do PPS, Roberto Freire, que lá estiveram ontem para pedir investigações sobre uma suposta tentativa do governo de abafar o escândalo do dossiê Vedoin (leia na página A8).

'A expectativa que a oposição tinha de que haveria uma onda Alckmin no segundo turno fracassou. A onda se revelou uma marola e agora a oposição quer desrespeitar a vontade popular', afirmou o coordenador da campanha de Lula e presidente do PT, Marco Aurélio Garcia, ao citar o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. 'Mas esse tipo de golpe institucional não vai ter êxito no Brasil.'

O presidente em exercício do PSB, Roberto Amaral, disse que a intenção do comitê da reeleição é aplicar 'vacinas' para impedir o lançamento de 'factóides' - fatos criados de forma artificial para exploração política - na reta final da campanha. 'Não faremos nenhum grande ato, mas pediremos aos militantes que saiam às ruas, ocupem os espaços públicos e aproveitem o clima de debate', insistiu Amaral. 'Estamos preocupados porque o desespero é péssimo conselheiro da política e nossos adversários querem criar um clima de insegurança, um terceiro turno da eleição.'

Garcia disse que a iniciativa das cúpulas do PSDB, PFL e PPS de protocolar pedido de investigação no TSE sobre a liberação de R$ 1 bilhão, por parte do governo, para a comercialização da soja em Mato Grosso é um 'ato de desespero'. A oposição sustenta que houve 'uso eleitoral' da liberação de recursos em Mato Grosso depois que o governador Blairo Maggi (PPS) declarou apoio à reeleição de Lula.

'Tentam desqualificar o apoio e encaixá-lo numa espécie de toma-lá-dá-cá fisiológico, talvez relembrando seus próprios métodos. Estão tentando reeditar a velha prática da política brasileira: entendem que, se Lula ganhar, não pode governar', afirmou Garcia. Para o presidente do PT, essa tática 'golpista' já foi adotada por 'ancestrais do PFL' após a 2ª Guerra Mundial. 'Fizeram isso com Getúlio, tentaram fazer com Juscelino, foram exitosos no golpe contra Jango e vão tentar fazer isso de novo', destacou, numa referência a Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart. 'Só que a oposição não contava com um fenômeno novo, que é a forte participação do povo na campanha.'

Além de Garcia e Amaral, participaram da reunião de ontem o presidente do PC do B, Renato Rabelo, e o senador Romero Jucá (PMDB-RR), representando a ala do partido que apóia Lula.

Após o encontro, o presidente do PT foi até a Câmara, onde se reuniu com deputados da bancada petista e acertou com eles uma 'vigília permanente' para rebater a artilharia da oposição. 'O PSDB e o PFL não têm propostas e ficam com chicanas', provocou o líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia.

Os petistas procuraram amenizar a decisão do PDT do senador Cristovam Buarque, candidato derrotado da sigla, de permanecer neutro na disputa, não declarando apoio nem a Lula nem a Alckmin. 'A neutralidade frustrou muito mais os nossos adversários do que nós', desconversou Garcia. 'De qualquer forma, temos certeza de que a imensa maioria do PDT acompanhará a candidatura Lula pela simples razão de que nós temos muito mais afinidade programática com o partido, como no caso das privatizações.'