Título: Contagem oficial confirma 2º turno
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2006, Internacional, p. A15

Dois dias depois da eleição presidencial e da confusão causada pela pane do sistema de apuração montado pelo consórcio brasileiro E-Vote, os equatorianos ainda não conheciam até ontem o resultado final da votação. Depois de romper o contrato com a E-Vote, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) deu início à contagem manual dos votos, que apontava para a necessidade da realização de um segundo turno e apresentava ontem à noite uma discrepância com os números divulgados pela empresa brasileira até a manhã de terça-feira.

Segundo a apuração oficial, com 79,72% dos votos contados, o populista de direita, Álvaro Noboa, o homem mais rico do Equador, tinha 26,24% dos votos, enquanto o esquerdista Rafael Correa - apoiado pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez - obtinha 23,03%. Antes, com 73,2% dos votos contados, a vantagem de Noboa era de 2,84 pontos.

Já a diferença apontada pela empresa brasileira era maior. Quando suspendeu sua contagem, com 72,25% dos votos apurados, a E-Vote dava 26,67% para Noboa e 22,49% para Correa.

A divergência dos números alimentou as denúncias de fraude por parte de Correa. À noite, a polícia fez uma busca nas instalações da E-Vote em Quito, como parte de uma investigação sobre se houve fraude.

Diante do abalo na credibilidade do TSE causado pela falha da empresa brasileira, o chefe da missão de observação eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o ex-chanceler argentino Rafael Bielsa, afirmou que 'até o momento, não se detectou nenhuma evidência nem denúncia provada de fraude'. Quanto às falhas da E-Vote, contratada para realizar o trabalho de contagem rápida por US$ 5,2 milhões, Bielsa lembrou que o pessoal técnico da OEA havia feito uma 'forte chamada de atenção' sobre a possibilidade de pane do sistema. Mas ressaltou que, qualquer que fosse o resultado anunciado pela empresa, ele não teria nenhum valor legal. 'De todo modo, esperaríamos os resultados oficiais', disse. Ele acrescentou que, apesar da 'lamentável experiência' do Equador com a E-Vote, 'a ferramenta da chamada contagem rápida será necessária no segundo turno'.

O presidente do TSE, Xavier Cazar, também rejeitou qualquer possibilidade de fraude. Cazar voltou a afirmar que a única conclusão segura era a de que nenhum candidato obteria os votos necessários para resolver a eleição no primeiro turno. A segunda votação está marcada para 26 de novembro.

O TSE prevê para hoje o anúncio do resultado final do primeiro turno da eleição presidencial e para amanhã a divulgação dos eleitos para o Congresso federal, para as Assembléias provinciais e os conselhos municipais.

Tanto Noboa quanto Correa se mobilizam em busca do apoio dos candidatos que não passaram para o segundo turno. Até agora nenhum destes declarou um apoio claro, mas a tendência, segundo analistas, é a de que os eleitores do terceiro e quarto colocados, Gilmar Gutiérrez (irmão do ex-presidente Lucio Gutiérrez, que obtém 17,3% dos votos) e León Roldós (15%), optem por Correa. Já a maior parte dos quase 10% de votos dados à conservadora Cynthia Viteri deve migrar para Noboa.