Título: Banco Central exagerou na dose, avaliam economistas
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2006, Economia, p. B4

Os quase quatro anos de governo Lula foram marcados por uma política monetária conservadora e rígida no controle da inflação, o que resultou num crescimento econômico bem abaixo da média dos demais países emergentes.

Em janeiro de 2003, no início da atual administração, a taxa Selic estava em 25,5% ao ano e subiu para 26,5% em março, permanecendo assim até maio. 'O governo Lula começou com um problema grave de bolha inflacionária por causa da crise de confiança durante as eleições de 2002. Isso impactou o câmbio e, conseqüentemente, os índices de preços', lembra o professor do MBA da Fipe-USP Marcelo Allain.

Afastado o temor do mercado com o novo governo, a Selic voltou cair e atingiu em abril de 2004 a taxa de 16% ao ano. Mas, quando todos pensavam que a tendência era de queda, o BC decidiu novamente elevar gradualmente os juros para 19,75%.

Essa taxa foi mantida entre maio e agosto de 2005, o que provocou inúmeras críticas ao conservadorismo do BC. 'Dava para ter começado a cortar os juros antes e aproveitar o bom momento do mercado mundial, que crescia a todo vapor', afirmou o economista-chefe da UpTrend, Jason Vieira.

Na avaliação de Marcelo Allain, as decisões do BC no início do governo foram bem dosadas, já que havia um problema de bolha inflacionária. 'Mas, nos últimos dois anos, o BC quis alcançar uma credibilidade por meio do aperto monetário e talvez tenha exagerado na dose.' Para ele, a autoridade monetária não deu a devida importância à valorização do real no controle da inflação e segurou demais os juros num nível elevado com medo de a demanda disparar. 'O que não ocorreu.'

Resultado é que, apesar de dez reduções consecutivas, entre setembro de 2005 até a última reunião, a economia não conseguiu reagir. No total, a Selic caiu 5,5 pontos porcentuais, de 19,5% para 14,25% ao ano.

O economista da MCM Consultores Antonio Madeira pondera que o governo teve de trabalhar com um juro real muito alto no início da atual administração para compensar a falta de credibilidade do BC. 'Apesar do crescimento menor, o BC criou condições para iniciar um próximo governo com taxas reais bem menores que as de 2003.