Título: 'Corrupção afugenta investidor'
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2006, Economia, p. B7

O Brasil precisa criar, 'com urgência', um melhor ambiente de negócios se quiser atrair investimentos estrangeiros e crescer a taxas mais elevadas. A avaliação é do presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz. Em entrevista ao Estado, ele criticou ainda o tamanho do déficit público no País e alertou: um clima permeado por escândalos de corrupção pode afugentar investidores.

'No curto e médio prazos, o que o Brasil e seus governantes precisam fazer é criar um melhor ambiente para os negócios, por exemplo, com leis mais propícias, que facilitem o setor privado a operar', afirmou Wolfowitz. Na segunda-feira, a ONU publicou um relatório anual em que mostra que, enquanto os investimentos no mundo cresceram em 29% em 2005, o fluxo para o Brasil caiu 17%.

Para Wolfowitz, outro desafio imediato do Brasil é 'lidar com seu déficit público' e a solução não pode ser maiores taxas sobre empresas. 'Resolver esse problema não será fácil, mas acredito que tenha uma relação direta com o tamanho da burocracia estatal.'

O americano também apresentou sugestões para que o Brasil retome o crescimento no longo prazo. 'A questão central será lidar com as desigualdades', afirmou. 'Quando uma criança brasileira não tem boa saúde ou educação, o País é quem paga o preço por toda sua vida. Se essa criança tiver acesso à saúde e educação, porém, o Brasil terá uma mão-de-obra produtiva, o que fará com que o País cresça de forma bem mais rápida no futuro.'

Defensor da luta contra a corrupção como forma de garantir que o dinheiro enviado aos países pobres seja utilizado para o desenvolvimento, Wolfowitz preferiu não entrar em detalhes sobre os escândalos de corrupção no governo Lula. Mas alertou que se trata de um 'problema estratégico'. 'Os países quem têm práticas claras e honestas incentivam investimentos estrangeiros. Se investidores não têm certeza de que as leis serão seguidas de forma justa, tendem a levar o seu dinheiro para um lugar mais seguro.'

Ontem, em Genebra, Wolfowitz afirmou que a corrupção ameaça o esforço de combate à pobreza. 'Cada dólar desviado pela corrupção é um dólar que não vai para a criação de emprego e para a saúde.'