Título: Ministério nega diálogo com Legacy
Autor: Monteiro, Tânia e Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/10/2006, Metrópole, p. C4

O ministro da Defesa, Waldir Pires, negou ontem que controladores de tráfego aéreo de Brasília tenham orientado pilotos americanos do jato Legacy a manter a altitude de 37 mil pés pouco antes de o avião sobrevoar o Distrito Federal. O Comando da Aeronáutica, por sua vez, informou não ter registro desse diálogo em seus arquivos.

O Legacy teria pedido autorização ao Cindacta-1 para descer mil pés a 30 milhas náuticas (55 km) ou quatro minutos de vôo do ponto em que essa operação devia se processar. O pedido foi negado pelo Cindacta-1.

O Legacy estava a 37 mil pés (12.139 metros) quando se chocou com um Boeing da Gol, no dia 29, o que provocou a morte de 154 pessoas. O choque aconteceu em Mato Grosso, onde o Legacy devia estar a 38 mil pés (12.467 metros) de altitude.

O plano de vôo do jato previa três altitudes diferentes. No primeiro trecho, de São José dos Campos até Brasília, ela era de 37 mil pés. Ao passar pela capital federal,o Legacy devia descer para 36 mil pés (11.849 metros). A 300 km antes do local do choque, o plano previa que o jato subiria para 38 mil pés.

O ministro não soube precisar quantos contatos foram feitos entre o Legacy e as torres de controle em São José dos Campos, Brasília e Manaus. Pires também admitiu que não ouviu o trecho da fita da conversa entre os controladores e os pilotos após Poços de Caldas (MG), quando o avião se estabilizou em 37 mil pés e teria feito o contato - de São José dos Campos a Poços de Caldas, o jato subiu até entrar na aerovia que o conduziu até Brasília. Ouviu apenas, conforme revelou, os trechos referentes aos momentos que antecederam o choque entre as aeronaves, porque considerou que aquele era o de maior interesse para a investigação.

O delegado Renato Sayão, da Polícia Federal, que está à frente das investigações do acidente, requisitou a íntegra de todos os diálogos e imagens registradas no dia do acidente para submetê-las a perícia e avaliar se houve responsabilidade de controladores do Cindacta 1, em Brasília, no episódio.

O ministro declarou que haverá transparência nas investigações e atenderá não só aos pedidos da PF, assim como os da Polícia Civil de Mato Grosso, que estão apurando o acidente. Algumas cópias de fitas com diálogos entre o controle aéreo e os pilotos já estavam de posse da PF para avaliação desde o fim de semana. Os nomes dos controladores de plantão no dia do acidente foram repassados pelo brigadeiro Paulo Vilarinho, diretor do Departamento de Controle Aéreo da Aeronáutica (Decea), a Sayão, que quer ouvi-los nesta semana.

Pires disse que 'houve descumprimento absoluto do plano de vôo (do Legacy) depois de Brasília'. Segundo o ministro, 'se, porventura, ele (o piloto) não conseguiu mais entrar em contato, mais do que nunca seu dever é seguir o plano de vôo e descer para 36 mil pés em Brasília e subir para 38 mil pés, no ponto Teres (antes do local do acidente), como estava previsto'. E insistiu: 'Ele deveria cumprir o plano de vôo mesmo sem conseguir autorização para mudar (de altitude)'.

Segundo o ministro, quando o Legacy passou por Brasília, o radar primário indicava na tela que o jato estava a 36 mil pés. O controle não tinha os dados do radar secundário, que indica a altitude com maior precisão, porque o transponder, aparelho que fornece o 'RG' do avião no vôo, estava inoperante. 'A presunção de todos era que ele estava cumprindo o plano de vôo, apesar de não haver o contato.'